terça-feira, 1 de maio de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 9)

"A beleza de Catherine Morland"
     Catherine Morland é a típica adolescente. Moleca, sonhadora, sonhadora, extremamente sonhadora, nas nuvens. Sonha ser uma das heroínas dos romances góticos que lê, mas está longe de ser como uma delas. 
    Jane Austen nos mostra logo no início do livro, que Catherine era quase uma anti-heroína e que em nada fazia lembrar as características das protagonistas dos romances que ela lia. Não tinha nada que pudesse fazer dela alguém assim:
..."Ninguém que já tinha visto Catherine Morland em sua infância teria suposto que ela nasceu para ser uma heroína. Sua situação na vida, a personalidade de seu pai e sua mãe, sua própria pessoa e disposição, eram todos igualmente contra ela."(N.A.Cap. 1). Isso é, nenhum tipo de atrativo extra, seja este de personalidade ou até mesmo de beleza:
"...ela tinha um corpo magro e desageitado, uma pele pálida, sem cor, cabelo negro e escorrido e forte traços ..."
   Catherine Morland, durante o romance, passa por uma transformação de moça-criança para moça-mulher. Antes, vivia despojada, rodeada de crianças inocentes, cercada do amor da família, envolvida em brincadeiras, não ligava para bonecas, era desatenta ao cotidiano e sonhava com os romances de mistério que lia."...e nada menos propício para o heroísmo, era sua personalidade...que estranha, inexplicável personalidade...mas dos quinze aos dezessete anos, estivera treinando para ser uma heroína".      
Felicity Jones, como Catherine Morland
"A abadia de Northanger" 2007
    Apresentada à sociedade de Bath, já se preocupava com as coisas de uma mulher: em se apresentar bem, se vestir para agradar alguém, com outras conversas e interesses, principalmente em se tratando de Henry  Tilney, inteligente e perspicaz.
"...mas quando uma jovem moça tem que ser uma heroína, a perversidade de quarenta famílias dos arredores não poderá impedi-la. Algo deverá acontecer para que um herói seja lançado em seu caminho." (N.A.)

   Como todo adolescente, Catherine dá uma importância muito grande a certos fatos corriqueiros, muitas vezes banais para alguém mais adulto e se envolve em sua imaginação fértil e cheia de romantismo. A Srta. Morland está descobrindo o mundo, se afirmando como mulher, mas isso só lhe é concedido quando o contexto de sua vida se transforma e ela se vê frente a uma sociedade que ela não conhecia. Novos amigos, um rapaz que lhe encanta, mistérios...e ela tenta trazer os livros que lê para a realidade que vive.  


    Catherine era uma moça muito sensível e inteligente, raramente se enganava quanto ao caráter das pessoas que a rodeavam, (com excessão de Isabella) tanto que John Thorpe, nunca lhe convenceu de seu caráter duvidoso. 
     Acredito até, em um duplo sentido quando o Sr. Morland diz no início do livro que Catherine estava crescendo e era quase bonitapoderia ter dito que ela não era uma mocinha tão bonita por falta realmente de mais beleza ou, que ela estava se lapidando e estava quase bonita, como uma rosa ainda em botão.
     Essa segunda opção acredito ser a que JA quis nos passar. Depois de seu convívio com Tilney, certamente sua beleza floresceu, JA a transforma na heroína que Catherine tanto queria ser, reforçando que ela cometia falhas como alguém comum (quando fez enorme confusão em visita de Northanger Abbey) ironizando a heroína perfeita dos romances da época, que sempre tinham o mesmo clichê romântico da "mocinha perfeita", ela é uma personagem divertida, que comete erros mas aprende com eles, percebe aos poucos que o que lia nos romances estavam longe de ser realidade.

Katharine Schlesinger, como Catherine Morland
"A abadia de Northanger" 1986
     Katharine Schlesinger, a atriz que interpretou o papel de Catherine Morland na versão de 1986, não me conquistou como tal. Felicity Jones, na versão de 2007, me pareceu mais fiel ao livro. Seu rostinho ao mesmo tempo ingênuo de menina-moça e belo como uma mulher em ascensão, embora no início JA nos fala de uma Catherine sem atrativos, acredito que fica subentendido que durante o romance ela se torna uma real heroína, passando de moça-criança para moça-mulher, antes, sonha com a descoberta da sociedade e em encontrar o amor, depois, conquista o coração de  Henry Tilney, um rapaz inteligente, digno de ser o herói do romance. 
  "Northanger Abbey" traz uma heroína muito singular. Uma mocinha ingenua, desqualificada para a protagonista que com um pouco de vivência e esmero, se transforma numa bonita moça. 
     Depois de conhecer a obra, alguém pode dizer que Catherine Morland não foi uma bela heroína? 
foto:janeaustenpt.blogs.sapo.pt



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4 comentários:

  1. Patrícia,

    eu tenho um fraco pela versão de 1986. Até mesmo a Catherine com aqueles olhos arregalados me divertem!

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  2. Raquel,

    Sabe que não assisti essa versão? Mas realmente esses olhos da Catherine de 1986 têm tudo a ver com o "espanto" dos romances góticos que ela imaginava, rsrsr. Abçs

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  3. Eu gosto muito da Felicity Jones. Acho ela uma graça. Mas confesso que o Mr. Tilney foi o que eu mais gostei na versão com ela. Adoro o Mr. Tilney hehehehehe

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    1. Ana, ele tem mesmo um ótimo humor. Também gostei mais dessa versão.

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