Acho que Jane Austen gostava de suspense. Já notei que em várias partes em seus romances, acontecem aqueles pequenos mal entendidos que dão um tempero a mais na trama. Mais ou menos como acontece em "Persuasão", quando Cap. Wentworth vai até Anne Elliot imaginando que ela irá se casar com o primo Mr. Elliot e cria todo aquele suspense.
O reencontro deste post também acontece dentro desses padrões.
Em "Razão e sensibilidade", um mal entendido, bem interessante, é claro para uma cultura diferente da nossa, onde as esposas são chamadas por Sra. (Mrs.) NOME DO MARIDO. Aqui no Brasil ficaria algo mais difícil, pois somos bem mais descontraídos (ou largados) com essas normas de apresentações, coisa que não sei se é tão bom; respeito, educação, cultura e tradição são coisas que eu preso muito... é sou meio antiga mesmo, mais vamos ao que interessa nesse reencontro:
Em "Razão e sensibilidade", um mal entendido, bem interessante, é claro para uma cultura diferente da nossa, onde as esposas são chamadas por Sra. (Mrs.) NOME DO MARIDO. Aqui no Brasil ficaria algo mais difícil, pois somos bem mais descontraídos (ou largados) com essas normas de apresentações, coisa que não sei se é tão bom; respeito, educação, cultura e tradição são coisas que eu preso muito... é sou meio antiga mesmo, mais vamos ao que interessa nesse reencontro:
Edward Ferrars e Elinor Dashwood - "Razão e Sensibilidade" - adaptação de 2007 |
Pra quem quer entender melhor...
Elinor soube que Mr. Ferrars (seu amado), havia se casado e ela já imaginava que Edward se casaria mesmo com Lucy Steel , pois um compromisso não era quebrado assim com facilidade, mas o Mr. Ferrars que havia casado e foi citado pelo criado era o irmão de Edward, Robert Ferrars.
Outra confusão, quando se pergunta sobre Mrs. Ferrars que Edward imagina ser sua mãe, mas a pergunta era sobre a Sra. Edward Ferrars, no caso (como esclareceu Edward) a Sra. Robert Ferrars. Jogo interessante, mas que fez desse reencontro (desencontro) aquele que Elinor mais esperou em sua vida!
Cenas de "Razão e sensibilidade" - 2007 |
"Mal Elinor havia pensado isto quando a figura de um
homem montado a cavalo atraiu o seu olhar para a janela. o cavaleiro parou
diante do portão do chalé. Era um cavalheiro, era o coronel Brandon, e a
expectativa a fez estremecer. Mas... não era o coronel Brandon! o cavaleiro não
tinha a aparência dele, nem a altura... Se fosse possível, ela diria que era
Edward. Olhou de novo. o homem acabara de descer do cavalo. Ela não podia estar
enganada, era Edward.
Elinor afastou-se da janela e sentou-se, pensando:
"Ele veio da casa do sr. Pratt para nos visitar. Vou me manter calma.
Tenho que ser dona de mim".
No mesmo instante, ela logo notou que as outras também
se davam conta do engano. Viu que a mãe e Marianne empalideciam, que se
entreolhavam e trocavam frases sussurradas.
Ela teria dado o mundo para conseguir dizer algo e
fazê-las entender que não queria que tratassem Edward com frieza. Foi, porém,
incapaz de dizer uma única palavra e, assim, deu às duas completa liberdade de
ação.
Nem uma sílaba foi pronunciada em voz alta. As quatro
aguardaram em silêncio a entrada do visitante. Os passos de Edward foram
ouvidos no caminho de cascalho; no momento seguinte, ele se encontrava no
vestíbulo e logo apresentou-se diante delas.
Sua aparência, no momento em que entrou na sala, não era
de felicidade. Seu semblante mostrava-se pálido de agitação e ele parecia temer
a recepção que teria, como se tivesse consciência de que não merecia a menor
consideração por parte de nenhuma delas. No entanto, conformando-se com o que
supunha ser a vontade da filha mais velha, por quem desejava de todo coração
ser guiada nesse instante, a Sra. Dashwood recebeu Edward com um olhar de
complacência forçada, ofereceu-lhe a mão e desejou-lhe felicidades.
Ele enrubesceu e gaguejou uma resposta ininteligível. Os
lábios de Elinor haviam se movido ao mesmo tempo que os da mãe e, quando o
momento de ação passou, ela desejou também ter trocado um aperto de mão com
Edward. Mas já era tarde demais e, com um gesto afetando naturalidade, voltou a
sentar-se e começou a falar do clima.
Marianne procurou ficar fora de vista para esconder a
sua perturbação. Margaret, compreendendo apenas em parte o que acontecia,
julgou melhor adotar uma postura fria, manteve-se calada e foi sentar-se o mais
longe possível de Edward.
Quando Elinor cessou de falar sobre a falta de chuvas,
um silêncio incômodo tomou conta do aposento. O silêncio foi interrompido pela
sra. Dashwood, que se sentiu na obrigação de perguntar se Edward deixara a sra.
Ferrars com boa saúde. De modo apressado, ele respondeu que sim.
Mais um instante de silêncio.
Elinor, embora temendo o som da própria voz, decidiu
empenhar-se em ser educada e indagou:
- A sra. Ferrars ficou em Longstaple?
- Longstaple? - repetiu Edward, surpreso. - Não, minha
mãe ficou na capital.
- Eu estava me referindo à sra. Edward Ferrars -
corrigíu Elinor, pegando um trabalho manual de cima da mesa. Ela não se atrevia
a fitar o jovem cavalheiro, mas tanto sua mãe quanto Maríanne o olharam. Ele
corou, parecendo perplexo, confuso, e depois de um longo momento de hesitação,
declarou:
- Talvez a senhorita se refira à esposa de meu irmão...
à sra. Robert Ferrars.
- Sra. Robert Ferrars?! - exclamaram Marianne e a sra.
Dashwood, em tom de absoluto espanto.
Embora Elinor não conseguisse falar, seu olhar atônito
fixou-se em Edward. Ele se levantou da poltrona e caminhou até a janela,
aparentemente sem saber o que fazer. Pegou uma tesoura que se encontrava no
parapeito da janela e, enquanto estragava a tesoura e sua bainha cortando-a em
tiras, disse apressadamente:
- Talvez as senhoras ainda não saibam... Talvez ainda
não tenham sido informadas de que meu irmão se casou com a jovem... com a Srta.
Lucy Steele.
Suas palavras foram recebidas com indizível espanto por
todas, exceto por Elinor, que continuou sentada com a cabeça abaixada sobre o
trabalho que tinha nas mãos, em um estado de tal agitação que, se lhe
perguntassem, não saberia dizer onde estava.
- Sim - afirmou Edward -, os dois se casaram na semana
passada e agora estão em Dawlísh.
Elinor não podia mais permanecer sentada. Saiu quase
correndo da sala e, assim que fechou a porta atrás de si, explodiu em lágrimas
de alegria, tendo a impressão de que nunca mais pararia de chorar. Edward, que
até então olhara em todas as direções, menos na de Elinor, viu-a sair apressada
e talvez tenha notado - ou ouvido - sua emoção. Assim que ela se retirou da
sala, ele entregou-se a um devaneio do qual nem as observações e as perguntas,
nem os chamados afetuosos da Sra. Dashwood foram capazes de arrancá-lo. Por
fim, sem falar nada, Edward saiu da casa e caminhou na direção da aldeia,
deixando as mulheres atônitas e perplexas com a mudança na situação dele, uma
mudança ao mesmo tempo tão maravilhosa e repentina. Era uma perplexidade que
elas não tinham como diminuir senão apelando para suas próprias conjecturas. ( Jane Austen - "Razão e sensibilidade" - cap. XII)
Na adaptação de 1971, o encontro não me pareceu muito admirado por parte de Elinor, algo um pouco "sem emoção"...
Na adaptação de 1971, o encontro não me pareceu muito admirado por parte de Elinor, algo um pouco "sem emoção"...
A versão de 1981 foi melhor do que a de 1971 em muitos aspectos: Elinor a princípio só parece tensa, mas depois sai correndo para fora da casa como conta o livro.
Na versão de 1995 Elinor também fica bastante emocionada, mas não sai da cadeira:
A versão de 2007 foi a que mais gostei, pois entre outras coisas, aparecem todas Dashwoods na sala. Também gostei mais dessa interpretação de Edward Ferrars que como no livro estava bem nervoso. Apesar de Elinor não sair da casa pra conter as lágrimas, a ida dela para a cozinha sem saber o que fazer ou pensar, toda atrapalhada com o avental, foi muito bonita, um reencontro cheio de emoção.
Um reencontro digno de um final feliz. Um caso de amor dado por perdido e depois... reencontrado.
Patricia,
ResponderExcluireu gostaria de ver a cena do livro, Edward saindo a esmo como um pateta!
Raquel,
Excluirpelo que me lembro, a única versão que Edward sai é a de 1981, mas nenhuma é exatamente como no livro. Será que ninguém consegue?
Patrícia