domingo, 6 de maio de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 10)

"A beleza de Mary Bennet"
Talulah Riley como Mary Bennet 
O&P - 2005
    "Alguém" com certeza irá perguntar o que Mary Bennet está fazendo nesta lista visto que não é uma heroína e muito menos bonita. Mas quem foi que disse isso???     
     Para mim, "nossa amiga" Jane Austen, com toda ironia que lhe é peculiar, mostrou em Mary a moça "quase perfeita" para ser uma heroína e conseguir excelente casamento, afinal o que faltava nela se tinha nos livros sua inspiração para tudo no cotidiano, sabia apaziguar os humores das irmãs, dava lições de moral, tocava piano, era recatada, estudava muito e se não fazia melhor (como no caso, cantar) é porque não possuía um bom professor, pois é sabido que até os "desafinados" com bom estudo e técnica são capazes de cantar relativamente bem. O que havia de errado então? Será que Mary Bennet era feia? 
Tessa Peake-Jones como Mary - O&P 1980
     JA não diz que ela era feia, aliás seria muita falta de sorte ser a única "feiosa" da família. Seria "burrinha"? Ela era extremamente aplicada aos estudos e sabia diversas citações de livros, por certo inteligência não lhe faltava, embora o Sr. Bennet dizia que suas filhas eram as moças mais tolas da Inglaterra. 
Ruby Bentall como Mary - "Lost in Austen"
    Mary tinha horror a ser uma moça tola, tanto que  na maioria das vezes, se mostrava avessa a bailes, não falava dos homens e repreendia as irmãs mais novas que eram muito "acesas" com os rapazes. Mas e então? Qual era o problema de Mary??? 
  O traço mais relevante na obra "Orgulho e Preconceito" é o fato de Mary ser exatamente o oposto da heroína e irmã "Elizabeth"
    Mary, fazia de tudo para ser o centro das atenções mostrando e se orgulhando de ter excelentes qualidades e na verdade o "centro das atenções", até mesmo de quem lê, é Elizabeth, que não está muito preocupada em agradar esse ou aquele, não que ela fosse mal educada, simplesmente não tinha dificuldades em mostrar seus próprios pensamentos, enquanto Mary, citava as "máximas" dos livros que lia, querendo assim mostrar que seus pensamentos e padrões estavam a altura dos grandes pensadores e poetas, tornava-se "sonsa":...Mary não tinha talento, nem gosto. Embora a vaidade lhe tivesse dado perseverança, dera-lhe igualmente um ar pedante de maneiras convencidas, coisa suficiente para obscurecer triunfos maiores do que aqueles que era capaz de alcançar. Embora não tocasse tão bem, Elizabeth agradou muito mais, graças à sua naturalidade; e Mary, depois de um longo concerto, pôde considerar-se feliz por alcançar alguns elogios. (O&P -cap.6)
Lucy Briers como Mary - O&P 1995
   O que Elizabeth tinha de natural na inteligência, Mary tinha de artificial, a esperteza que Elizabeth tinha em julgar, refletir e responder algo, Mary tinha em repetir o que fora dito por outros e muitas vezes isso tinha um caráter arrogante, cansativo, esnobe, resumindo, Mary muitas vezes se passava pelo que hoje chamamos de "chata". 
     Esse extremo com toda certeza está focado no comportamento de Mary para chamar ainda mais a atenção às qualidades de Lizzie, qualidades estas, que como sabemos também são típicas na autora, que era decidida, firme em suas opiniões e convicções.
Ruby Bendall como Mary ao piano- "Lost in Austen"
     O comportamento de Mary faz ainda uma ironia às convenções da época em que o padrão de perfeição era a mulher cheia de predicados e de preferência submissa, Mary tentava ser o protótipo de tal  mulher e "se achava", enquanto Lizzie, não tocava bem o piano, não desenhava, não tinha aquele andar elegante da Srta. Bingley, não ligava muito para convenções e se casou com o mais cobiçado partido das obras de JA. Lizzie possuía a maior qualidade, a autenticidade, o caráter não fingido, e essa é a essência de "Orgulho e Preconceito", onde Mr. Darcy, tido como o orgulhoso, foi  preconceituoso ao consentir que uma mulher deveria ter muitas qualidades, ser "prendada" para alcançar algum mérito vindo dele:...mas estou longe de concordar com você no seu julgamento sobre as moças em geral. Apesar do grande número das minhas relações, não posso gabar-me de conhecer mais de meia dúzia de moças realmente prendadas. (Mr.Darcy)
— Nem eu — disse Miss Bingley.
— Nesse caso — observou Elizabeth — deve exigir muitas qualidades para o seu ideal de mulher perfeita.

— De fato, exijo muitas qualidades.

— Oh, certamente — exclamou a sua fiel aliada. 
— Nenhuma mulher pode ser realmente considerada completa se não se elevar muito acima da média. Uma mulher deve conhecer bem a música, deve saber cantar, desenhar, dançar e falar as línguas modernas,a fim de merecer esse qualificativo, e além disso, para não o merecer senão pela metade, é preciso que possua um certo quê na maneira de andar, no tom da voz e no modo de exprimir-se.

— Sim, deve possuir tudo isso — acrescentou Darcy.  — E acrescentar ainda alguma coisa mais substancial: o desenvolvimento do espírito pela leitura intensa.
— Já não me espanto de que conheça apenas seis mulheres completas, espanto-me é de que conheça alguma.
— Julga com tanta severidade o seu sexo, que duvida da possibilidade de tudo isto?
— Eu nunca vi tal mulher. Nunca vi tanta capacidade de aplicação, gosto e elegância reunidas numa só pessoa. (O&P - cap.8)

     E Lizzie? Não foram as qualidades e prendas "comuns" que ele viu nela, caso contrário teria se interessado pela Srta. Bingley ou mesmo Mary. Lizzie (juntamente com  Jane Austen) estava segura em sua opinião quanto à perfeição na mulher, mas a pobre Mary (digo pobre, porque tenho certa "dó" dela) que afinal só queria ser boa moça, era ridicularizada. As irmãs mais velhas tinham outras pretensões e outros tipos de personalidade e as mais novas eram exatamente o que Mary não queria ser: fútil. 
    Mas apesar de todos esses "probleminhas" ainda gosto de Mary, já conheci pessoas assim e que no fundo, só querem ser notadas e admiradas. 
    Mary Bennet de O&P 1995 foi bem fiel ao livro,  mas realmente ela é a mais "chatinha". A de 1980, também é agradável mas gostei mais da Mary de 2005, ela me pareceu meio que desamparada e incompreendida.
   Penso que Mary Bennet queria agradar à sociedade, ao pai, à mãe e porque não dizer também aos homens, caso contrário porque tantos esforços em alcançar tantos predicados? 
     Um fato que considero muuuiiito relevante e que o diretor Joe Wright (O&P 2005) coloca em seu comentário sobre o filme, é o fato de que Mary tinha gosto que Mr. Collins lhe fizesse uma proposta de casamento, nada mais natural, visto que as duas irmãs mais velhas estavam fora de cogitação. Ela com certeza aceitaria a proposta, mesmo sem qualquer sentimento por ele (se é que não tinha algum). Agradaria a mãe, garantindo a propriedade da família, agiria como uma mulher respeitável, e combinariam muito bem de gênio. Observem o leve "sorrisinho" para ele e a postura de Mary enquanto as outras riem por ele ter sido recusado. Era quase um alerta: "Ei, eu estou aqui e aceito me casar!" 


   Puxa, Mary, não foi desta vez...Será que por fim, Mary ficou pra tia?
    Tudo se resume em: "Quando alguém quer agradar a todos, acaba não agradando a ninguém, nem a si mesmo."
fotos e video:
alexaadams.blogspot.com 
marspeach.woedpress.com
hotflick.net 
movieclips.com by youtube



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8 comentários:

  1. Eu tambem tenho dó de Mary em algumas versões até gosto dela, acho que ela teria sido uma esposa melhor para o senhor Collins, já que tinha real chance de ama-lo visto que seu desejo de agradar era grande em ambos.

    Muita gente critica a versão 2005, mas eu acho que Joe Wright foi o diretor que mais olhou dentro do carater real dos perssonagens ele entende Austen e não permitiu que nenhum perssonagem ficasse caricato e se livrou desse clichê maldoso de que Mary usava oculos!!!

    Por que nunca fazem uma Elizabeth de oculos? por que não uma Jane?
    Mas não, usou oculos só pode ser a feia das Bennets. Meio preconceituoso e obvio não?

    Quanto a suas esperanças de que Mary não seja feia eu acho infelizmente ela era sim, no final do livro ela para de ser tão reclusa e isso é atribuido ao fato dela não ter mais a mortificação de ser comparada a suas outras irmãs, acho que todas pareciam com a senhora Bennet e ela é aquelas garotas que são a cara do pai.

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  2. Ester,

    Pode ser mesmo. Talvez pelo fato de ela não se sentir bonita, tentava compensar isso sendo prendada. Interessante como davam tanto valor às moças prendadas e parece que a beleza vinha meio atrás, mas com Mary parece que a "coisa" não funcionou muito: Se ela tinha beleza, ninguém parecia notar e seus predicados também passaram desapercebidos. Será que ela ficou para tia? Rsrsr,abços,

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  3. Adorei esse post sobre a Mary, antes eu achava que
    eu era a única fã da Austen que a via desse modo pedante hehe.Mas no geral, eu gosto da Mary, mesmo ela agindo em boa parte do tempo de forma mecânica, ela valoriza coisas que
    são construtivas para si mesma, o que era bem complicado,vendo a mãe que tinha rs.

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    1. Fernanda, também acho isso. Acho que ela queria somente ser uma moça "ideal" pra época. Isso garantiria seu futuro e todos reconheceriam suas qualidades, mas... não foi bem isso que aconteceu. Tadinha. Abçs,

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  4. Concordo com o que foi dito, mas também sinto uma introspecção muito forte na personalidade de Mary. Ao mesmo tempo em que ela se esforça por ser perfeita, acaba sendo muito antiquada. Ela não consegue agir de acordo com a sociedade. Permanece tempo demais tocando piano e cantando, mesmo se tornando um pouco desagradável, e principalmente, na cena em que o baile é sugerido, acaba sendo "estraga prazeres". Então no fundo a acho bem teimosa e contra as convenções. Mary pra mim é mais decidida do que parece e bastante metódica, suas exigências se referem ao que ela acha que deve ser, e não exatamente ao que pensam ou querem dela, embora não goste de rejeição, é claro. Ela não se contenta com pouco, só palavras sábias a satisfazem. Então sinto pena por ela não conseguir se "entrosar" mais, só que também admiração por ser a mais original, por não ter escolhido nem o lado das irmãs mais velhas, nem o das mais novas...
    Obrigada pelo espaço!
    Ana Júlia

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    1. Ana Júlia,

      agradeço seu comentário! Também acho Mary meio enigmática, rsrsr, acho que tinha a auto-estima meio baixa e "queria" compensar com seus dotes, por fim acaba sendo mesmo sonsa, por isso pensei que se daria bem com Mr.Collins. Abçs,

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    2. Acho que eles combinariam mesmo... pensei que iam ficar juntos quando assisti pela primeira vez, justamente por causa daquele "sorrisinho" que ela deu! rs
      Abçs Patrícia!

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    3. Patrícia,

      Já pensou que casal mais enjoativo??? Rsrsrs, bjos e obrigada pelo comentário,

      Patrícia

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