domingo, 15 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 6)

"A beleza de Anne Elliot"
     Assim como Marianne Dashwood após uma decepção amorosa, Anne Elliot aparece o livro todo com sua beleza apagada. É diferente das outras heroínas de Jane Austen; já está com 27 anos e é considerada uma "solteirona" para a época em que se passa o romance. O semblante sempre triste e introspectivo"...havia perdido o frescor da juventude...". A impressão que se tem é que toda a sua vivacidade, alegria e beleza da juventude estão dentro da caixinha que guarda as cartas do Capitão Wentworth. 
      É quase um baú de tesouros, que quando aberto faz Anne voltar no tempo, chorar e se arrepender, arrepender e arrepender... tornando-a ainda mais abatida e solitária.
     Ao contrário  da   irmã mais velha, Elizabeth Elliot, vaidosa,   orgulhosa e dona de si, Anne é simples em sua vestimenta,  opiniões e atitudes (ao meu parecer, não tão simplória quanto o figurino de Anne de 2007-BBC). É sensível, amável, extremamente responsável, o que lhe  custou  renunciar  ao  seu  amor  e noivado para atender um  conselho "amigo"  de  Lady  Russell, que  queria  evitar  que ela fizesse um casamento mal estruturado,  pois   Frederick  não  possuía  nenhuma expectativa para o futuro e nem fortuna e ela era filha de um "baronete" (a propósito, título que na realidade não  faz  parte  da   realeza).  Anne,  mesmo  amando Frederick,  atendeu   a  Lady   Russell  (que  tinha  em grande   conceito   a   posição   social,   conexões    e dinheiro),  achando  que  o  rompimento  seria melhor para ela.
     Anne tem em seu caráter uma mistura de Marianne e Elinor. Romântica, sonhadora, fiel ao seu coração e ao mesmo tempo cautelosa, esperançosa e muito racional. 
     Como Elinor, não procurava oportunidades para realizar seus sonhos, esperava que o destino os trouxesse em suas mãos.  
     O fato de ter sido persuadida a não se casar com Frederick Wentworth aos 19 anos, de forma alguma revela que Anne tinha um caráter fraco, falta de firmeza ou personalidade, como ele muitas vezes a julgou, pelo contrário, ela era muito inteligente e responsável e essa maturidade fez com que, por ser ainda muito jovem, aceitasse o conselho de Lady Russell, que tinha como grande amiga e confidente. 
Sally Hawkins como Anne Elliot - Persuasão 2007
     Depois de passados 8 anos, o destino trouxe seu amor para perto dela novamente, agora em vários ângulos diferentes: Frederick era mais velho e rico, via Anne como fraca de caráter, um péssimo defeito para alguém que como ele era decidido, firme e ambicioso; havia ainda a mágoa do abandono embora ainda a amasse. 

“Ela o vira. Eles se encontraram. Estiveram mais uma vez na mesma sala.” (Persuasão)

Amanda Root como Anne Elliot - Persuasão 1995
     Por outro lado, Anne já perdera o florescer de sua beleza, pois tinha já 27 anos (idade já em declínio da juventude para início do século XIX, quando as moças se casavam muito jovens; aos 15 já eram apresentadas à sociedade em busca de um pretendente) e o receio de que Frederick, um homem  inteligente, firme, de boa aparência e rico, jamais iria lhe perdoar ou amar novamente.


“Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes ou sentimentos mais em sintonia!”
(Persuasão)

    Um pequeno parenteses: A maturidade faz também com que certos aspectos da personalidade se tornem mais claros e o que muitas vezes é um defeito, no futuro pode significar uma qualidade e vice-versa. 
     Uma criança ou adolescente, muitas vezes visto como teimoso, pode no futuro provar que seu caráter não era esse e sim de alguém persistente e isso é uma qualidade e não um grave defeito, ao contrário, outro que só sabe fazer o que lhe foi mandado e tido como bonzinho e obediente, poderá ter mais tarde um caráter demasiado passivo e tímido, alguém sem iniciativa pra nada e dependente. Nossas atitudes e traços de personalidade nunca podem ser obsessivos, tudo dentro de um contexto, cada qual na sua hora e no momento certo; são sempre "bons servos e maus senhores", tudo é cabível desde que sabemos dominá-los e controlá-los.
Ann Firbank como Anne Elliot - Persuasão 1971
     Foi o que aconteceu com Frederick Wentworth: Louisa Musgrove, que parecia o oposto de Anne, uma moça alegre, centro das atenções, bonita, confiante e que parecia ter uma excelente firmeza de caráter e saber o que queria, quando caiu em Lyme, demonstrou ser uma pessoa obstinada e infantil, não ouviu ninguém, não mediu consequências, e fez o que estava determinada a fazer, sofrendo um sério acidente e Anne, preocupada com a família, quieta e tão mal julgada provou para ele sua firmeza em suas atitudes, sua maturidade, juízo e a constância de seu amor. Seu encanto interior superou a exterior.
     F. Wentworth, reconheceu que a beleza de Anne era extraordinária! Que não existia ninguém tão doce e que jamais amaria alguém como ela. Partiu então em busca de seu feliz destino, o mesmo destino que Anne em sua paciência e resignação, esperava chegar em suas mãos.

...I am half agony, half hope...unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant...a word, a look, will be enough to decide whether I enter your father's house this
evening or never."




(...Eu sou metade agonia, metade esperança... Eu posso ter sido injusto, fraco e ressentido, mas nunca inconstante...uma palavra, um olhar, será suficiente para que eu decida entrar em casa de seu pai esta noite ou nunca.”)

F. Wentworth
   (Persuasão)
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7 comentários:

  1. Patricia,

    não sei se você viu o versão 1995 de Persuasão (não consigo vizualizar todas suas fotos). Caso não tenha visto, procure. A transformação de Anne ao longo do filme da a medida exata de sua beleza, na minha opinião.

    Amanda Root, não é uma beleza do momento, mas um grande atriz e lembro tambpém de ler nos tantos blogs que já li, que uma fã uma vez encontrou Ciaran Hinds (que adoro!) e pediu para ele autorgrafar o DVD de Persuasão e ele comentou: She (Amanda) is fabulous, isn't she?

    Não é um charme!

    A versão de 2007 tem muitos detalhes bonitos, mas não chega aos pés de 1995.

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  2. Raquel, nunca vi a versão de 95 por inteiro, só alguns detalhes. Acho que Amanda Root é a mais bonita das três versões, mas achei Ciaran Hinds um pouco velho para o papel, apesar de que mais autentico no quesito "marinheiro". Vou seguir seu conselho e procurar por essa versão! Obrigada, abçs.

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  3. Nossa, a Anne de 71 foi a mais bonita, pelo jeito. A Amanda Root é muito feia e a Sally Hawkins, que não é tão feia, tava medonha no filme de 2007.

    Acho meio frustrante porque Persuasão é minha obra predileta. Queria a Rosamund Pike morena como Anne.

    E eu não consegui perceber a evolução da beleza na Amanda Root. Acho que as roupas não ajudaram. Muito fechadas e com muitos babados...

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    1. Ana, gostei muito das versões de 1995 e 2007, mesmo tendo alguns contras, mas pelo que vemos, Anne realmente não era uma moça muito chamativa em beleza as atrizes não eram assim aquelas beldades, mas acho que faz parte do contexto; Rosamund Pike talvez ficasse bem para fazer o papel em si mas não com tanta autenticidade pois é muito bonita. Abçs

      Patrícia

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  4. Mas a Rosamund é bem "enfeiável", sabe. Veja essa foto, por exemplo: http://www.brightestyoungthings.com/wordpress/wp-content/uploads/2011/01/Rosamund-Pike-in-Barneys-Version.jpg
    Não é feia, mas não está LINDA como ela sempre é. Por isso eu acho que a evolução da beleza dela é bem possível, sem ficar algo deslumbrado, apenas mais harmoniosa.

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    1. Ana, agora você me pegou. Não é que daria bem pra uma Anne Elliot?? Super diferente e Anne provavelmente não era feia, só não tão estonteante, mas depois dessa foto da Rosamund, acho que daria, com uma bela maquiagem! Abçs,

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  5. Em qual capítulo se encontra o trecho famoso
    “Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes ou sentimentos mais em sintonia!”

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