sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A música no tempo de Jane Austen

     A música faz parte da natureza humana. Independente do gênero musical, os sons sempre agradaram os ouvidos humanos; cada povo com sua cultura, cada um em sua época. 
     É igualmente maravilhoso como podemos admirar vários estilos musicais, mas  o que chamamos de clássico, não se perde nunca. 

     No tempo em que se passa os romances de Jane Austen (1775-1817), período também em  que a autora viveu, não era diferente. 
     
Decifrando alguns enigmas bem simples pra ficar inteirado no que era comum em música no tempo de Jane Austen:

O que "tocava no rádio" naquela época? 
     Brincadeirinha, que não havia rádio todo mundo sabe, você simplesmente ouvia uma nova melodia na casa de algum conhecido que geralmente era tocada por algum dos presentes.
Como era divulgada a música? 
     Assim como nos dias atuais, quando um astro da música (de Madonna a André Rieu)  viaja em tournée, faz suas apresentações nos grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e outras grandes cidades pelo mundo, assim era. Mesmo quando um compositor não fazia tournées, uma orquestra tocaria sua obra em algum teatro em um grande centro, como Londres ou Bath. Veja a cena:
Anne Elliot ao Cap. Wentworth - cena de "Persuasão" 2007
Todos tinham acesso?
     Os mais abastados eram os primeiros a terem acesso aos "grandes sucessos"; as melhores roupas, sapatos e carruagens eram utilizadas para ir à estreia de uma nova ópera ou composição. Era um evento especial. Havia também uma grande expectativa por parte do compositor, pois a estreia era a crítica diante do seu trabalho. 
     Lembrando que não havia cinemas, parques de diversões, shoppings, nada além de visitar amigos, bailes e assistir concertos; quem não podia assistir à estréia poderia ver e ouvir depois em grandes cidades. André Rieu não iria fazer uma apresentação  no interior de Goiás  por exemplo, não que ali ele não tenha admiradores, mas é totalmente inviável, sem estrutura para recebê-lo e assim era também naquela época. Então...é bem lógico que Meriton demoraria alguns meses para ouvir pela primeira vez os sucessos que Paris, Florença, Viena já estavam acostumadas.
Como as pessoas nas pequenas cidades sabiam o estava "nas paradas de sucesso"? 
       Sempre havia alguém influente (ou um amigo em viagem) que vinha de um grande centro urbano e trazia consigo as partituras.

E se alguém gostasse da obra, como poderia obtê-la?
     Não tinha como comprar o CD!!! Teria que comprar a partitura manuscrita de um copista ou esperar que algum conhecido o fizesse e  lhe emprestasse para copiar também, como Jane Austen fez com alguns de seus livros de piano. As impressões de partituras ainda eram raras.
Cópia de partituras feita por Jane Austen
Que tipo de composição era mais facilmente divulgada?
   Com certeza as Sonatas* e algumas Árias (canções).

O que são essas tais sonatas?
     Do italiano sonare e significa "soar" , uma peça que deve ser tocada e não cantada. A forma sonata é  o tipo clássico de composição com 3 ou 4 partes com cerca de 30 minutos de duração.
Uma Sonata de Beethoven

Sonata, Sinfonia, Concerto... 
é tudo a mesma coisa, só que...

Sonata - Composta para um ou dois instrumentos
Sinfonia - Composta para uma orquestra
Concerto - Composta para uma orquestra com um instrumento solista (que toca partes sozinho), daí o nome, "Concerto para piano e orquestra", "Concerto para violino e orquestra", etc...
Viu que fácil?!

Porque esse tipo de música era de mais fácil acesso?
     Era muito mais simples ouvir e copiar uma peça para um único instrumento e tocá-la do que ir a um teatro e apreciar um concerto ou uma ópera.

Quem era a celebridade na época?
     Como citei no post anterior, Beethoven era o auge naquela época. Havia também outros compositores ouvidos e queridos do público*. Não é porque você comprou uma roupa nova lindíssima que não vai mais usar as outras, isso é em se tratando de novidade, digamos, a "última moda" em música.
*Mas isso é assunto para o próximo post :)
Fotos:
allposters.com.br
lvbandmore.blogspot.com.br
squarepianotech.com
lewebpedagogique.com


Postagens relacionadas:
Jane Austen, a escritora pianista
Jane Austen e a música de Mozart
Jane Austen, Beethoven e...Napoleão
Beethoven e Mr. Darcy

6 comentários:

  1. Quando li livros da Austen pensei nisso mesmo, de como a música circulava entre as pessoas, já que, em se tratando de meios de comunicação, havia muita limitação. Engraçado que, para pessoas daquela época, era tudo tão normal, né? Pra gente parece até impossível viver assim, hehehe!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isabela,

      é verdade, as coisas pareciam bem mais difíceis,mas as pessoas viviam como podiam, era mais ou menos como ir à casa de uma amiga, comer um bolo e pedir a receita. Você copia e faz o bolo em casa, parece bem normal, rsrsr, bjos,


      Patrícia

      Excluir
  2. Patrícia,

    seus post sobre música estão um primor! Tenho muita vontade de ter um fac-símile daquele livro de música que Jane Austen copiou. Não entenderia nada mas seria precioso tê-lo.

    No aguardo do próximo post!
    beijocas, raquel

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Raquel,

      eu também já procurei(rindo), já encontrei coisas valiosas de manuscritos mas esse de Jane parece que não tem mesmo. Esse assunto sobre música é coisa maravilhosa e cheia de detalhes, não conseguiria colocar em um só post, então estou dividindo um pouco por assunto. Obrigada pelo elogio, bjos,

      Patrícia

      Excluir
  3. Um apontamento interessante é que, antigamente, na época mesmo da Jane, as pessoas não tinham a oportunidade de ouvir música toda hora, como nós fazemos atualmente, mas tenho certeza de que esses poucos momentos em que o faziam, eram com um deleite infinitamente maior do que nós temos atualmente. Era um tempo dedicado apenas para ouvir, pra analisar com os ouvidos os compassos, os movimentos e todas essas coisas. Hoje em dia, ouvimos enquanto fazemos bilhões de outras coisas ao mesmo tempo e, quando paramos pra ouvi-la sem fazer alguma outra coisa, é apenas porque queremos lembrar de algo, estamos tristes, ou coisas parecidas, logo, o foco ainda assim não é a música.

    E, aliás, achei o post maravilhoso! Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro leitor(a)

      é isso mesmo, acho que isso tem tudo a ver com esse estresse maluco que abala a humanidade e traz tanta depressão e desencontro, ninguém foca onde é preciso, nas coisas simples e pequenas. Que bom que gostou do post, volte sempre! Abçs,
      Patrícia

      Excluir

Não esqueça de deixar seu comentário, estou esperando por ele!