quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Jane Austen - Edição "Requinte"

  
     Babei quando vi essa edição com as obras completas (menos "Lady Susan") da Jane na Livraria Cultura. São os seis livros em um único volume!
       Não encontrei em mais nenhum lugar (nem na NET), mas com certeza é possível achar; como não me informei com detalhes, acredito que deva ser um lançamento. Está em inglês e o livro é MARAVILHOSO! 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Elas foram ao shopping


     Hoje em dia é difícil quem não goste de um Shopping Center. Eu por exemplo, gosto muito! Vale o passeio, mais do que as compras em si. As livrarias são meus lugares preferidos e depois, ando um pouco, tomo um café (às vezes na própria livraria, quando é possível).   
       Acho que todas as mocinhas, criadas por Jane Austen (e ela própria) gostariam de frequentar shoppings, se tivessem tido oportunidade.
     Há cartas em que Jane escreveu sobre suas compras em sua visita em casa de seu irmão (Charles, se não me engano), e quanto ela se deliciava com "comprinhas". Claro que ela não era diferente!
       Shopping às vezes pode combinar com futilidade e aí vem  Lydia e Kitty Bennet, Lucy Steele, que iriam ao shopping no máximo comprar esmaltes, ver vitrines, os rapazes, ir ao cinema e tomar sorvete. 
    Outras, como as irmãs Bingley, Emma e Georgiana também me parecem gostar desse tipo de passeio, mas sempre voltam com as sacolas cheias do que a moda oferece de novidades. 
    Mas...de todas as personagens de Jane Austen, acredito que a que mais seria assídua  aos shoppings centers seria Mary Crawford. Daquelas que vão à joalherias, compram grifes,  sejam sapatos, bolsas ou roupas, isso combina com ela! É a cara dela!
Mesmo porque (me perdoem as(os) que gostam "da etiqueta", pois esse comportamento também tem um fundo psicológico) isso combina com aparência e ostentação, coisa que Mary tinha de sobra.

Já Jane e Lizzie, poderiam apreciar as livrarias, algumas lojas de roupas ou quem sabe perfumes.

    Elinor e Marianne com certeza levariam Margareth e quem sabe a Sra. Dashwood (que me parece ser bem disposta para esse tipo de passeio. Acredito que iriam mais para comprar algumas coisas necessárias do que futilidades, como sapatos e roupas e quem sabe alguns livros e artigos de papelaria para Elinor e Margareth. Um café ou chazinho também me soa bem!

    Anne Elliot é um caso a parte. Ir ao Shopping com Lady Russell não me parece muito convidativo, a não ser para dicas de bons livros; com as meninas Musgrove, pareceria mais uma babá, com Mary, uma psicóloga ambulante, o bom mesmo seria ir sozinha, mas acho que Anne só foi mesmo a um Shopping depois de se ter casado com Cap. Wentworth, certamente apreciariam um chá e as exposições que sempre estão "por ai". 

     E o que dizer de Fanny Price. Dúvida cruel! Pra ir com Maria e Julia seria um balde de água fria  na auto-estima (já tão judiada) de Fanny, com Mary Crawford??? Nem pensar! É... fico pensando que ela só iria mesmo à feira, ou quem sabe depois de casada como Anne. Que tal um McSundae com Edmund?

  Tempos difíceis... Quem ai fica sem um Shoppinzinho?! 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

"Razão e sensibilidade" - A música como forma de aproximação nas obras de Jane Austen - parte final


"...Marianne tocou ao piano todas as músicas preferidas que costumava tocar para Willoughby, cantou todas as árias em que suas vozes soavam perfeita e alegremente unidas...."

     Em "Razão e Sensibilidade", Jane Austen nos mostra uma heroína talentosa com a música. Marianne era excelente pianista, cujas interpretações eram admiradas por todos. O piano, era para ela um companheiro e nos momentos de desapontamento em que passou com Willoughby foi seu amigo, fazendo da música um grande consolo.



Marianne achava que a música não tinha muita influência sobre Edward...
      - Talvez - confessou Marianne - eu tenha recebido essa notícia com alguma surpresa. Edward é muito querido e eu o amo com ternura. No entanto... há alguma coisa que lhe falta... Sua aparência não é impressionante; ele não tem aquele encanto que eu esperava no homem destinado a ligar-se seriamente a minha irmã. Falta em seus olhos todo aquele espírito, aquele fogo que ao mesmo tempo revela virtude e inteligência. E, além de tudo isto, tenho medo, mamã, que ele não tenha bom gosto. A música parece exercer pouca atração sobre Edward e, se bem que ele admire muito os desenhos de Elinor, não se trata da admiração de uma pessoa que pode entender seu valor. (pág.10)


...e ainda pensava que a música era uma espécie de sintonia entre os casais...
     Eu não poderia ser feliz com um homem cujo gosto não coincidisse com o meu em todos os pontos; ele precisará participar dos meus sentimentos; os mesmos livros e as mesmas músicas deverão encantar a nós dois. (pág.10)


Talvez pelo mesmo motivo (pela falta de interesse do marido) a Lady Middleton abandonara a música depois de casada...
   Nessa noite, como alguém comentasse que Marianne estudara música, ela foi convidada a tocar. O piano foi aberto, todos se prepararam para ficar encantados e Marianne, que cantava muito bem, foi solicitada a tocar e cantar as músicas que Lady Middleton havia trazido para aquela casa ao se casar e cujas partituras tinham permanecido na mesma posição em que as colocara no instrumento, pois a anfitriã celebrara o casamento abandonando a música; no entanto, de acordo com as afirmativas de sua mãe, ela tocava muito bem e, segundo a própria Lady, gostava muito de tocar. (pág.20)



Marianne foi admirada por Sir John e Coronel Brandon por seus dotes musicais...
    A performance de Marianne foi aplaudida com entusiasmo. Sir John expressava sua admiração em altos brados cada vez que uma canção terminava e conversava em voz bem alta durante a execução de cada uma. Lady Middleton o repreendia a todo instante, comentando não entender como a atenção de alguém podia desligar-se da música por um momento que fosse e pedia a Marianne que cantasse determinada canção quando ela acabara de cantá-la. Apenas o coronel Brandon ouvia atento o tempo todo, sem demonstrações exageradas, e oferecia a Marianne o cumprimento da atenção, fazendo com que ela o respeitasse em meio aos outros, que evidenciavam uma vergonhosa falta de bom gosto.(pág.20)



A admiração do Coronel Brandon por Marianne era ainda maior por sua interpretação musical. A sintonia de gostos que ela almejava num casal, ele já estava certo de ter encontrado junto dela...  
     O prazer que ele demonstrava ao ouvir música, se bem que não fosse aquele êxtase encantado que pertencia apenas a ela, tornava-se precioso em contraste com a horrível insensibilidade dos outros, e Marianne era razoável o bastante para reconhecer que um homem com trinta e cinco anos podia ainda ter sentimentos profundos e admirar coisas lindas a ponto de se emocionar.(pág.20)


Marianne se encantou ainda mais quando Willoughby se declarou apaixonado por música...
    Willoughby... aparência de cavalheiro perfeitamente bem-educado ele unia franqueza, vivacidade e, acima de tudo, quando declarou que era apaixonado por música e dança, Marianne endereçou-lhe um olhar de aprovação tão profundo que garantiu para si a atenção dele em todas as demais conversas que decorreram durante a visita.(pág.27)


...e outras afinidades entre Marianne e Willoughby...
     Com grande rapidez descobriram que o gosto pela dança e a música era mútuo, o que fez com que nascesse uma conformidade geral de julgamento em tudo que se relacionasse a essas diversões.(pág.27)

    O convívio deles foi-se tornando aos poucos o prazer mais importante para ela. Liam, conversavam, cantavam juntos; o talento musical de Willoughby era considerável e ele lia com a sensibilidade e emoção que, infelizmente, faltava a Edward.(pág.28)

...a música e o piano unindo ainda mais o jovem casal...
      Muitas observações, então, foram feitas a respeito da chuva pelos dois. Willoughby abriu o piano e pediu a Marianne que fosse sentar-se a ele, o que fez com que diferentes pessoas se desinteressassem do tema, que caiu por terra. Mas não foi fácil para Elinor recuperar-se da agitação que despertara nela.(pág.35)



...o piano trazendo as lembranças de Willoughby...
  A tarde passou naquele mesmo clima de sensibilidade profunda. Marianne tocou ao piano todas as músicas preferidas que costumava tocar para Willoughby, cantou todas as árias em que suas vozes soavam perfeita e alegremente unidas. Houve momentos em que permaneceu imóvel como uma estátua, fitando perdidamente as linhas das músicas que ele havia escrito para ela, até que seu coração ficou tão pesado que seria impossível suportar mais tristeza.

...e continuou nos dias em que se seguiram...
   Esse constante alimentar da dor profunda continuou nos dias seguintes. Marianne passava horas ao piano, chorando e cantando alternadamente, a voz em certos momentos completamente afogada por lágrimas. Também nos livros, como na música, ela provocava um sofrimento intenso e profundo comparando os contrastes entre o passado e o presente. Lia apenas e somente os livros que eles tinham lido juntos.(pág.48)




...a viagem a Londres, trazendo a possibilidade maravilhosa de adquirir novas partituras musicais...
    - Que maravilhas faria uma viagem desta família riquíssima a Londres! - acrescentou Edward. - Que dia feliz para os vendedores de livros, de partituras musicais, para os donos de lojas de artigos para pintores! A srta. Dashwood daria ordem para as lojas lhe enviarem toda novidade que aparecesse em matéria de telas, tintas e pincéis... Não haveria músicas suficientes em Londres para contentar Marianne, conheço bem a grandeza de sua alma, assim como livros!(pág.53)

...o piano nos momentos de irritação de Marianne...
    Lady Middleton propôs às demais que jogassem rubber. Nenhuma se opôs, a não ser Marianne que, com sua habitual falta de respeito às normas gerais da boa educação, exclamou:
- Minha cara Lady, a senhora sabe que tenho um bom motivo para recusar, uma vez que detesto baralho. Prefiro tocar piano; ainda não experimentei o seu desde que ele foi afinado. E, sem maiores cerimônias, ela dirigiu-se ao piano.
    Lady Middleton fez uma expressão que indicava estar agradecendo a Deus por jamais ter sido assim tão rude com alguém.
- Marianne não consegue ficar perto do seu piano sem tocar, a senhora sabe, Lady Middleton... - Elinor tentou suavizar a ofensa. - E eu a entendo perfeitamente, pois trata-se do melhor piano que já ouvi até agora.(pág.81)


...a eterna companhia...  
     Ao piano, Marianne empolgou-se com sua música e seus pensamentos, esquecendo-se de todas as pessoas que se achavam na sala, e o instrumento localizava-se muito perto das duas moças que trabalhavam. Então, a Srta. Dashwood concluiu que, com todo aquele barulho, poderia conversar com Lucy sobre o assunto que tanto a interessava sem que corressem o risco de serem ouvidas na mesa de jogo.(pág.82)


...a música animando os serões e unindo as pessoas...   
   Os acontecimentos da noite não foram importantes. Essa festa, como todas as outras noitadas musicais, reunia muitas pessoas que gostavam de fazer grandes performances, porém a maior parte delas não fazia, de modo algum, nada que pudesse ser de fato denominado performance. Os músicos eram, geralmente em sua própria opinião e na opinião de seus amigos mais chegados, os maiores artistas amadores da Inglaterra.(pág.142)


...dedicar-se à música e à leitura ajudaria esquecer Willoughby...
     ...Tenho a intenção de me levantar sempre antes das seis e dessa hora até o jantar pretendo dividir cada momento entre a música e a leitura. Planejei tudo e estou determinada a seguir um curso de estudo sério. Nossa biblioteca já é bem conhecida por mim para que eu a consulte para algo além de mero entretenimento. Mas existem obras que vale a pena ler, em Barton Park, e há outras, mais modernas, que sei que posso pedir emprestadas ao Cel. Brandon. Lendo apenas seis horas por dia, no decorrer de doze meses ganharei boa parte da instrução que desejo.(pág.196)

...a música lembrava Willoughby...
     Depois do jantar, Marianne sentou-se ao piano para tocar. Mas a partitura sobre a qual seus olhos pousaram foi a de uma ópera que Willoughby lhe comprara e que continha alguns de seus duetos preferidos; na capa, seu nome estava escrito com a letra do jovem cavalheiro. Isso já era demais! Ela balançou a cabeça, colocou a partitura de lado, dedilhou algumas teclas e, em seguida, reclamando de fraqueza nos dedos, fechou a tampa do instrumento - mas não sem antes declarar que no futuro iria praticar bastante.(pág.196)

     Em todas as obras de Jane Austen, não há outra heroína tão dedicada e movida sentimentalmente pela musica quanto Marianne em "Razão e sensibilidade". Ela percorreu com essa arte e com seu instrumento, todo o percurso de suas mais profundas vontades, decepções,  e realizações.

Fotos:
Adaptações de "Razão e sensibilidade" - 1981, 1995, e 2008.

domingo, 29 de junho de 2014

"Emma" - A música como forma de aproximação nas obras de Jane Austen - parte 3


...em nada tinha alcançado o grau de perfeição que ela tivesse querido possuir, já que não admitia enganos...


     A música na vida  de Emma mais parece ter sido uma forma de "denúncia" a si própria, de que realmente ela não poderia ser perfeita e admirada em tudo. 

   Rica, bonita, inteligente e acostumada a ser o centro das atenções, Emma não admitia não ser tão boa em algo, mas enquanto não houvesse alguém que lhe superasse em seus talentos isso não seria um problema, até que as qualidades de Jane Fairfax aparecessem para lhe incomodar (e muito). Não que ela não fosse dotada de talento, capacidade e inteligencia, mas lhe faltava disciplina e perseverança...isso denunciava-lhe mais ainda!

A falta de disciplina... 
     ...Emma sempre tinha querido fazê-lo tudo, e tinha sido no desenho e na música onde seus progressos tinham sido maiores, sobre tudo tendo em conta a escassa disciplina no trabalho a que se submeteu.(pág.19)

Emma sabia que poderia ser melhor se tivesse mais dedicação...
    Tocava algum instrumento e cantava; e desenhava em quase todos os estilos; mas sempre o tinha faltado perseverança; e em nada tinha alcançado o grau de perfeição que ela tivesse querido possuir, já que não admitia enganos. Não se fazia muitas ilusões aproxima de suas habilidades musicais ou pictóricas, mas não lhe desgostava deslumbrar a outros, e não lhe importava saber que tinha tina fama freqüentemente maior que a que mereciam seus méritos.(pág.19)

As ocupações de uma mulher, segundo Emma...
     As ocupações habituais de uma mulher, por isso se refere aos olhos, às mãos e ao cérebro, igual posso as ter então que as tenho agora; ou pelo menos sem que haja uma grande diferença. Se desenho menos, lerei mais; se deixo a música, dedicarei-me a bordar toalhas de mesa. E quanto a seres que reclamem nossa atenção...o maior perigo que têm que evitar as que não se casam...(pág. 41)


Emma e a rivalidade com Jane Fairfax...
     Reapareceram os mesmos motivos de inimizade de antes....e Emma voltou a sentir-se irritada com Jane. Tiveram um pouco de música; Emma se viu obrigada a tocar...pareceram com a Emma de uma ingenuidade afetada, de um ar de superioridade destinado tão somente a demonstrar a todos que ela, Jane, seguia estando muito por cima.(pág.79)

A música agrada a todos...
...você e a senhorita Fairfax nos obsequiaram com uma música deliciosa. Sr. Woodhouse, não conheço maior prazer que estar comodamente instalado em uma poltrona enquanto dois jovens como estas nos dão de presente os ouvidos durante toda uma velada; às vezes com música, às vezes com sua conversação.(pág.80)

Jane Fairfax não tinha um piano, mesmo sendo ótima pianista...    

...estou seguro, Emma, de que à senhorita Fairfax tem que lhe haver parecido agradável a velada...alegrei-me em ver que lhe deixava tocar tanto, porque como em casa de sua avó não têm nenhum instrumento, ela deve havê-lo agradecido muito.(pág.80)

Já viu Jane Fairfax tocar?
- Ouviu tocar alguma vez à senhorita da que estávamos falando( Jane Fairfax)?
-  Se a ouvi tocar? exclamou Emma. Esquece você que aconteceu muitas temporadas no Highbury. Ouvia todos e cada um dos anos de nossa vida desde que as duas começamos a estudar música. Toca de uma maneira encantadora.(pág.96)

Jane Fairfax ganha um piano de alguém desconhecido...
    A senhora Penetre estava contando que tinha visitado a senhorita Bate e que, logo que entrar na sala, ficou-se assombrada ao ver-se diante de um piano...um magnífico instrumento, muito elegante... quadrado, não muito grande, mas sim de umas dimensões consideráveis... mandado da casa Broadwood no dia anterior, com o grande assombro de ambas, tia e sobrinha, ante aquele inesperado presente...e tampouco tinha a
menor ideia de quem tivesse podido enviá-lo...(pág.102)


As suspeitas de quem teria dado o presente...
...mas que logo ambas se convenceram plenamente de que o piano não podia ter mais que uma origem; tinha que tratar-se forçosamente de um obséquio do coronel Campbell. Sempre hei sentido muito que Jane Fairfax, que toca tão maravilhosamente, não tivesse um piano.(pág.102)


Jane Fairfax tocava muito bem... 
     Pareceu-me uma vergonha, sobre tudo tendo em conta que há tantas casas nas que há pianos magníficos que não servem para nada...e aqui está a pobre Jane Fairfax que entende tanto em música e que não tem nada que se pareça com um instrumento nem sequer a espineta mais velha e mais lamentável para distrair-se um pouco...(pág.103)

Emma sabia de suas limitações com o piano... 
   A jovem conhecia muito bem suas próprias limitações para atrever-se a tocar algo que não se soubesse capaz de executar com certa brilhantismo; não lhe faltavam nem gosto nem talento para a música, sobretudo nas composições de pouco empenho que revistam interpretar-se nesses casos, e se acompanhava bem com sua própria voz.(pág.109) 

O dueto de Emma e Frank Churchill...   
...mas esta vez teve a agradável surpresa de ouvir que uma segunda voz acompanhava sua canção... a do Frank Churchill, não muito vigorosa, mas bem entoada. Ao terminar a canção, Emma se desculpou como era de rigor, e se aconteceram os cumpridos de costume. (pág.109)

As habilidades musicais de Frank Churchill..
     O jovem, por sua parte, foi acusado de ter uma voz muito bonita e um perfeito conhecimento da música; o qual ele negou como era de esperar, afirmando que era totalmente profano na matéria, e dando toda aula de seguranças de que não tinha nada de voz.(pág.109)
...mas a interpretação musical de Jane Fairfax era superior à de Emma e Frank...     
...ambos voltaram a cantar juntos uma nova canção; e logo Emma teve que ceder seu lugar à senhorita Fairfax, cuja interpretação, tanto do ponto de vista vocal como instrumental, Emma não pôde por menos de reconhecer em seu foro interno que era imensamente superior à sua.(pág.109)


Emma não gostava de ser inferior a Jane Fairfax ao piano e no canto...    

...doía de um modo muito claro e inequívoco sua inferioridade na interpretação e no canto. O que mais lamentava era a preguiça de sua infância...se sentou ao piano e esteve fazendo práticas durante uma hora e meia.(pág.111)

O desconsolo de Harriet por não saber tocar...
-Oh! Se eu pudesse tocar tão bem como você e a senhorita Fairfax!
-Não nos ponha à mesma altura, Harriet. Me comparar com ela é como comparar uma abajur com a luz do sol.(pág.111)


...mesmo assim, Emma dá sua opinião sobre a novo piano de Jane...
- Sim, sim, é uma grande ideia, disse Frank Churchill, será muito interessante conhecer a opinião da senhorita Woodhouse sobre o piano..."(pág.113)

A paixão da Sra. Elton por música...
- Já não pergunto a você se for aficionada à música, Sra. Elton. Nestas ocasiões a fama de uma dama geralmente a precede e já faz tempo que Highbury sabe que é você uma pianista de primeira categoria.
-Oh, não, claro que não, certamente que não! Tenho que protestar de uma ideia tão elogiosa. Uma intérprete de primeira categoria! 
     Asseguro-lhe que estou muito longe de sê-lo. Sua informação deve proceder de alguém muito parcial. Sou enormemente aficionada  à música, isso sim... é uma verdadeira paixão; e meus amigos dizem que não deixo de ter certo gosto para tocar o piano...(pág.134)

A Sra. Elton elogia Emma...
- Você em troca, senhorita Woodhouse, sei muito bem que toca maravilhosamente. Asseguro-lhe que para mim foi uma grande satisfação, um consolo e uma alegria saber que entrava em formar parte de uma sociedade tão melômana*.
Sem música eu não posso viver. É algo absolutamente necessário para minha vida, e como sempre vivi entre pessoas muito aficionadas à música, tanto no Maple Grove como no Bath...(pág.134)

(*melômana - pessoa grande admiradora de música)

O piano de Jane Fairfax...presente perigoso...
-O piano! Ah! Isso é algo muito próprio de um moço, de um moço de pouca idade, muito jovem para compreender que às vezes em um presente assim pesam mais os inconvenientes que a ilusão que produz. Sim, é uma ideia de menino! Não posso conceber que um homem se empenhe em dar a uma mulher uma prova de seu afeto que sabe que ela preferiria não receber; e sabia que de ter podido, ela se houvesse oposto a que o enviasse o piano.(pág.217)


Conclusões finais sobre o caso:


     Emma com certeza poderia ter aprendido um pouco com um grande compositor que foi viveu na mesma época, não tão distante dali:

" O gênio é composto por 2% de talento e de 98% de
perseverante aplicação."
                                          Ludwig van Beethoven

quinta-feira, 19 de junho de 2014

"Persuasão" - A música como forma de aproximação nas obras de Jane Austen - parte 2


"...Na música, habituara-se a sentir-se só no mundo..."

     Quando leio essa frase, é claro que não levo "ao pé da letra"; de forma alguma a música lhe traria solidão, intendo que Anne, uma moça de personalidade muito introspectiva e observadora, tinha na música sua companhia. Sendo assim, enquanto tocava, "conversava" com o piano e consigo mesma; poderia escolher o repertório que mais lhe agradava e convinha de acordo com seus sentimentos e pensamentos do momento e não precisaria de mais ninguém. Isso tornou-se um hábito em sua vida onde a única confidente era Lady Russell. 
     Muitos conhecidos, mas amigos escassos!

   Na obra "Persuasão", há várias passagens onde a música aparece como tema: desde a companhia para a solidão, para alegrar quem está triste, animar os serões, para um compromisso de gala ou para um encontro.    
    Na casa dos Musgrove,  Louise e Henrietta tocavam harpa (instrumento também muito popular na época, embora não tanto quanto o piano), mas em uma época onde não haviam gravações, era muito raro uma casa onde não houvesse pelo menos um músico, independente do instrumento escolhido. 
     Sem música não havia vida social naquela época.
    É bem interessante perceber tal detalhe: a música era primordial na vida das pessoas!


A música como união na casa dos Musgrove
   Assim, dirigiram-se à Casa Grande, onde se sentaram durante meia hora na antiquada sala quadrada com um tapete pequeno e o chão brilhante, a que as filhas da casa estavam, pouco a pouco, a dar um ar de confusão com um piano, uma harpa, floreiras e mesinhas colocadas por todo o lado.(pág. 20)


Anne, era melhor musicista que as meninas Musgrove
     ...Ela tocava bastante melhor do que qualquer das meninas Musgrove; mas, não tendo voz, não sabendo tocar harpa e não possuindo uns pais babados que a escutassem, deliciados, raramente lhe pediam que tocasse e quando o faziam, ela sabia que era só por delicadeza ou para permitir que as outras descansassem. (pág. 23)

A música, companheira de Anne
...Ela sabia que, quando tocava, dava prazer apenas a si própria; mas esta não era uma sensação nova: com exceção de um breve período da sua vida, desde os 14 anos, desde que perdera a sua querida mãe, ela não conhecia a felicidade de ser escutada ou encorajada por uma apreciação justa ou um verdadeiro bom gosto. (pág.23)


Anne como pianista, vista com indiferença
...a afetuosa parcialidade do Sr. e da Sra. Musgrove em relação à execução das filhas e a sua total indiferença pela de qualquer outra pessoa causavam-lhe muito mais satisfação por causa delas do que tristeza por si própria. (pág. 23)

A música era convidada de honra nas reuniões em Upercross

...Por vezes, vinham juntar-se outras pessoas ao grupo reunido na Casa Grande. A vizinhança não era numerosa, mas os Musgrove eram visitados por toda a gente e davam mais jantares e tinham mais visitas, convidadas ou ocasionais, do que qualquer outra família. Eles eram muito mais conhecidos e estimados. As meninas adoravam dançar, e os serões terminavam, ocasionalmente, com um pequeno baile improvisado. Havia uma família de primos a pouca distância de Uppercross, em circunstâncias menos abastadas, que estavam dependentes dos Musgrove para todas as suas diversões; eles podiam aparecer em qualquer altura, ajudar a tocar qualquer coisa ou dançar em qualquer lado...(pág.23/24)

A prontidão de Anne em tocar para agradar, chama a atenção

...Anne, que preferia o trabalho de músico a uma ocupação mais ativa, tocava músicas populares durante horas seguidas; uma amabilidade que, mais do que qualquer outra coisa, chamou a atenção do Sr. e da Sra. Musgrove para o seu talento musical e provocava frequentemente um elogio:
- Muito bem, Anne! Muito bem! Meu Deus! Como esses seus dedinhos voam!(pág.24)

As Srtas. Musgrove e Anne: A harpa ou o piano?

- Eu já vos conto a razão - acrescentou ela. – Vim avisar-vos de que o papá e a mamãe estão muito abatidos esta noite, especialmente a mamãe; ela não deixa de pensar no pobre Richard! E concordamos que seria melhor ter a harpa, pois parece distraí-la mais do que o piano.(pág.25)

A música não poderia ter faltado na apresentação do Cap. Wentworth
...O cunhado e a irmã regressaram encantados com o seu novo conhecimento e a visita em geral. Tinha havido música, canções, conversa, riso, tudo extremamente agradável; o comandante Wentworth tinha modos encantadores, sem qualquer timidez nem reservas; pareciam ser todos velhos conhecidos, e ele viria caçar com Charles na manhã seguinte.(pág. 29)

A música, mais uma vez, como companhia para Anne
...Quando lhe foi proposto, Anne ofereceu os seus préstimos, como de costume e embora os seus olhos se enchessem por vezes de lágrimas enquanto estava ao piano, ficou muito satisfeita por estar ocupada e não desejou mais nada em troca a não ser passar despercebida.

...Foi uma festa alegre, e ninguém pareceu estar mais bem-disposto que o comandante Wentworth. Ela achou que ele tinha todos os motivos para se sentir satisfeito, nomeadamente a atenção e a deferência gerais e, principalmente, a atenção de todas as jovens.(pág.35)

Anne preferia mais tocar do que dançar

...Uma vez ela sentiu que ele estava olhando para ela observando o seu rosto transformado, tentando, talvez, ver nele os vestígios do rosto que outrora o encantara; e uma vez ela soube que ele devia ter falado nela...ele perguntara ao seu par se a Srta. Elliot nunca dançava. A resposta foi:
Oh! não, nunca, há muito que ela deixou de dançar. Ela prefere tocar. Nunca se cansa de tocar. (pág.36)


O lugar de Anne era ao piano
- Uma vez, ele falou-lhe. Ela tinha deixado o piano quando o baile terminou, e ele sentara-se a dedilhar uma ária de que desejava dar uma ideia à Sra. Musgrove. Sem pensar, ela voltou a essa parte da sala; ele viu-a e levantando-se imediatamente, disse com uma delicadeza estudada:
- Perdão, minha senhora, este é o seu lugar. E, embora ela se tivesse afastado logo com uma negativa firme, ele não voltou a sentar-se. Anne não queria que ele voltasse a olhá-la ou a falar-lhe assim. A sua delicadeza fria e a sua atitude cerimoniosa eram piores que a indiferença total.(pág. 36)
Essa passagem linda e tão "ponto chave"
na indiferença de Wentworth para com Anne,
não aparece  na versão de de 2007.

Cap. Wentworth gostava muito de música

...Era um concerto a favor de uma pessoa protegida de Lady Dalrymple. Claro que eles tinham de ir. Esperava-se que fosse um bom concerto, e o comandante Wentworth gostava muito de música. E imaginava que ficaria satisfeita se conseguisse conversar durante alguns minutos com ele; sentia-se com coragem para lhe dirigir a palavra, se a oportunidade surgisse. (pág. 88)

Que emoções poderia um momento musical trazer?

...Os outros regressaram, a sala voltou a encher-se, os lugares foram reclamados e ocupados, e ia seguir-se outra hora de prazer ou de castigo, outra hora de música para deliciar ou provocar bocejos, conforme prevalecesse o gosto real ou afetado de cada um. Para Anne, ela continha principalmente a perspectiva de uma hora de agitação. Não podia sair tranquilamente da sala sem voltar a ver o comandante Wentworth, sem trocar com ele um olhar amigável. (pág. 93)



     Vejamos pelo seguinte lado. Como seria toda essa trama sem o fundo que a Arte Musical nos dá? Desde os momentos de indiferença de Wentworth, dos Musgrove pelo fato de Anne mais tocar do que dançar, da companhia para sua solidão até o desfecho que envolve o tal encontro (desencontro) no Concerto? Sem graça total, não é? E você o que acha?