sábado, 24 de agosto de 2013

A maquiagem no tempo de Jane Austen - Cuidando da beleza no séc. XIX - parte 3


Um pouco do século XVIII...     

     A partir da década de 1760, os cosméticos foram crescendo tanto em popularidade, que  coiffeuses (penteadeiras ou tocadores) começaram a ser adquiridos em massa e vestiários foram construídos de frente para o norte para a melhor aproveitamento da luz.
Toucador ou penteadeira do século XIX
  As inglesas eram menos propensas a usar cosméticos do que as francesas (elas usavam maquiagem, mas buscavam uma aparência mais natural), mas por volta das décadas de 1770-80, francesas e inglesas usavam quantidades quase idênticas de cosméticos.
   Os principais aspectos da aparência estética do século XVIII,  foram uma pele entre o branco e o pálido, bochechas vermelhas em uma grande forma circular (principalmente para as francesas) ou triângulo invertido, e os lábios vermelhos. 
    Por volta de 1781, as francesas usavam cerca de dois milhões de potes de rouge no ano (!!!). Em contraste, as inglesas geralmente apareciam um pouco naturais, com cosméticos usados ​​com moderação e discrição. O rosto estava pálido, mas não ao extremo, com a opção do rouge aplicado de forma triangular de cabeça para baixo, a partir das maçãs do rosto até quase o queixo. 
   Havia dois principais cosméticos usados ​​pela maioria dos homens e mulheres: blanc e rouge (branco e vermelho).
    A pintura facial branca, era aplicada em todo o rosto e ombros. As maquiagens brancas mais populares usadas ​​no rosto eram feitas de chumbo, que era popular por sua opacidade, apesar do conhecimento do risco de envenenamento. O blanc, também podia ser feito a partir de bismuto ou vinagre. Veias poderiam ser traçadas com lápis azul para destacar a brancura da pele.
  As sobrancelhas eram em meia-lua com extremidades afiladas, e podiam ser escurecidas com sabugueiro, cortiça queimada, ou lampblack (fuligem das lamparinas a óleo).

      Foi a partir dos últimos anos do séc. XVIII,  que o uso pesado de cosméticos caiu com a crescente tendência de um visual mais "natural". Esse tipo de “maquiagem” ainda foi utilizado com moderação, por mulheres mais velhas que tentavam esconder os estragos do tempo e por mulheres de má reputação.     Após alguns anos, foi se observando um endurecimento da pele, causado pelo chumbo tóxico e o efeito dessas “tintas maquilantes” depois de secas. A tinta branca à base de chumbo foi lentamente substituída por óxido de zinco e giz, que era menos opaco e brilhante, mas muito mais saudável.
     Neste momento a pintura da cara branca também foi lentamente substituída por bases coloridas mais semelhantes ao que estamos acostumados. 

Caixinha de rouge - 1797
O século XIX

     No século XIX,  alguns padrões de beleza feminina eram mais fáceis de atingir,  não havia a tal “magreza exagerada”, a sede “fashionista” existente atualmente, as plásticas e sempre é bom lembrar que as boas maneiras e uma boa conduta eram extremamente valorizadas, ao contrário de hoje em que as mulheres querem se expôr cada vez mais, perdendo completamente a noção de BELEZA.
    Embora, as mulheres do século XIX não tinham manicures, cuidavam de suas unhas mantendo um aspecto natural. Elas não usavam sombra nos olhos e pouco delineador. Muitas vezes confeccionavam seus delineadores queimando uma rolha de cortiça e aplicando o resíduo com um pincel molhado.
    Os rouges podiam ser perigosos! Muitas vezes eram de chumbo vermelho (expondo placas de chumbo para ao vapor de vinagre), ou cinábrio, também chamado de vermelhão, produzido por enxofre e mercúrio. Os de origem vegetal podiam ser usados com pouco perigo, mas também com moderação.
   As substâncias vegetais que fornecem tintura vermelha são:  madeira de sândalo, raiz de alkanet, cochonilha, pau-brasil e especialmente o açafrão bastardo, que produz uma cor muito bonita, quando é misturado com uma quantidade suficiente de talco.
     Alguns perfumistas compunham o rouge vegetal, para a qual eles tomavam o vinagre como o excipiente, mas esses vermelhos são susceptíveis de prejudicar a beleza da pele, é mais conveniente misturá-los com a matéria oleosa  e formar pomadas. Para este efeito, podia se empregar bálsamo de Meca, manteiga de cacau, espermacete ou óleo de ben. Às vezes muriato de estanho também era usado, não tão saudável, mas produzindo uma cor vermelha brilhante. 
     O Talco era utilizado para abrandar a cor. Blushes em pó eram os mais comuns, embora a versão em líquido ou creme podia ser encontrada. Às vezes o rouge era vendido em folhas: crepons feitos de tecido de crepe fino mergulhado na maquiagem. Esta era rica em pigmentos e, para um resultado natural, era necessário uma leve aplicação.
    O pó facial era permitido nessa época. Os maos comuns eram feitos de farinha de arroz, embora o talco fino era por vezes usado.
      A face branca foi lentamente substituída por bases coloridas mais semelhantes às atuais. Uma das primeiras preparações foi Pear's Almond Bloom, apresentado pelo seu fabricante "adere firmemente à face, dando uma tonalidade clara e delicada que não pode ser distinguida da natural". (Pelo que observei, era às vezes usado como batom).
"Bloom of Roses", Guerlain

   "Pear's Liquid Blooms of Roses dá um tom mais agradável para o rosto feminino e em tal grau de perfeição...", (La Belle Ansemblée - outubro de 1807).

    Para um olhar cintilante, um pó branco brilhante feito de bismuto finamente moído, foi usado como os iluminadores modernos. Novamente, isso era mais comum para as mulheres maduras.

  De repente, o mundo europeu descobriu as maravilhas do rímel e do delineador. A exploração inglesa da Índia e o contato com outras áreas orientais, como a Turquia, contribuiu para a fama desses cosméticos e a mania egípcia produziu alguns efeitos colaterais bastante surpreendentes. 
     A mistura da fuligem das lamparinas com um pouco de óleo, produzia uma pasta que era aplicada nas sobrancelhas e cílios. A cortiça queimada às vezes era usada também. (Imaginem o cheiro...)
      De todos os cosméticos disponíveis, esses para os olhos eram os mais desaprovados, por causa da dificuldade de aplicação e por dar um resultado bem artificial (indesejado para a época), especialmente quando visto à luz do dia.
    Os lábios podiam ser avermelhados com álcool destilado ou vinagre, 
com emulsões feitas com alkanna (raíz de alkanet) e óxido de ferro, 
Batons feitos com alcanet e óxido de ferro.
ou por  pomadas vermelhas no formato de varas, (talvez o avô do atual batom).
       Apesar de toda a força moralista, é provável que a maioria das mulheres usavam algum tipo de cor dos lábios no período Regencial. 
Lábios pintados com os
ingredientes citados acima
Um cosmético popular foi Rose Salve Lip, 
disponível em qualquer farmácia e principalmente, contendo cera branca, óleo de amêndoa, alkanet (a raiz da Alkanna) para cor e perfumado por rosas. 
Alkanet
    Este tipo daria aos lábios um brilho rosado um pouco transparente, um pouco como os glosses modernos.
     Rigge's Liquid Bloom feito de rosas de damasco, também era muito elogiado: "Este Rouge é tão adequado para a pele que não pode ser distinguido de uma pele natural. Ele é tão delicado como simples água de rosas, e pode ser utilizado também nos lábios, com efeito agradável". Esses artigos elegantes e aprovados são preparados pelo D. Rigge, Wandsworth, e vendido em Londres, somente e apenas em seu Armazém, na New Bond-street, 31. - Propaganda em La Belle Ansemblée, em janeiro de 1808.
Mulher do séc. XIX
     Assim, embora a beleza natural foi muito elogiada, a maioria das mulheres no período Regencial lançava mão de cosméticos para preencher onde a natureza se mostrou deficiente e em muitos casos o que vemos é realmente uma aparência natural.

8 comentários:

  1. Patrícia,

    que pesquisa, hein?!

    Ainda não li os posts completos mas já estou anunciando no Jane Austen em Português.

    um abraço, raquel

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    1. Raquel,

      é tudo muito curioso (e até cômico), a vida não era nada fácil, rsrs. Obrigada mais uma vez. Abços,


      Patrícia

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  2. É até engraçado saber disso, eu não fazia muita ideia de como as mulheres buscavam tanto a beleza. Nós mulheres sempre vaidosas :) Parabéns pesquisa muito bem feita.

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    1. Bella,

      pois é, não importa o tempo, mulher é mulher, quem não tem cão caça com gato, rsrsr! Obrigada pela visita e comentário, desculpe pela demora em responder. Bjos,

      Patrícia

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  3. Que demais, eu amei a história, que tormento essas mulheres tentando se maquiar com tão pouca variedade, mas é fascinante, amei simplesmente, parabéns a autora.

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  4. Amei saber em saber mais sobre a evolução do uso da maquiagem

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