quarta-feira, 25 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 8)

"A beleza de Fanny Price"
   

"...parecia ter tanto medo de ser notada e elogiada como as outras mulheres têm medo de ser esquecidas." (Mansfield Park - cap. 21)

    Fanny Price é a mais polêmica das heroínas de Jane Austen, muitos até mesmo contestam esse título a ela. 
 Tadinha... Vejo Fanny como uma menina demasiadamente sofrida, tímida, introspectiva, sem coragem pra discordar de nada, (não que ela não tivesse sua maneira de ver a vida) até mesmo um tanto depressiva.
  Muitos leitores se irritam com o comportamento de Fanny e acham que um romance longo como "Mansfield Park" não merece uma heroína sem sal e sem açúcar como ela. Mas afinal: o que Jane Austen nos mostra com Fanny?
    Acredito que no quesito "beleza", Fanny  era  uma moça bonita, mas sua condição em casa dos Bertram, abafava sua beleza, até mesmo a interior. Não tinha muitas vaidades e sua timidez não deixava que ela fosse diferente, aliás, nem a timidez, nem Tia Norris, que fazia com que Fanny sempre lembrasse "onde era seu lugar", deixando claro que ela era inferior aos outros em seu redor. 


— Seu tio acha você muito bonita, Fanny — essa é que é a verdade... qualquer pessoa, menos você, havia de se ressentir por não ter sido achada muito bonita há mais tempo; mas a verdade é que seu tio até agora nunca a tinha admirado — e agora ele a admira. Sua pele está tão bonita! E você ganhou tanto em aspecto! E o seu porte — não, Fanny, não vire o rosto — é apenas um tio. Se você não pode suportar a admiração de um tio, que será de você? Você deve realmente ir se acostumando com a ideia de ser admirada. Deve se habituar a ser uma mulher bonita. 

— Oh! Não fale assim, não fale assim, exclamava Fanny, perturbada por sentimentos que ele não poderia adivinhar... (Edmund e Fanny - Mansfield Park)
Frances O'Connor, como Fanny, MP 1999

     Fanny Price, ao meu ver, é o oposto de Emma Woodhouse: enquanto Emma é rica, bonita, de excelente senso de humor, tem liberdade pra dizer o que quer, é admirada por todos e tem elevada auto-estima, Fanny é pobre, reservada, séria, não tem tempo para pensar em si, mostra muito pouco o que sente, tem medo de tudo o que fala, não tem liberdade no que diz, é humilhada e vítima de preconceitos e por conseguinte, tem sua auto-estima lá em baixo.
Sylvestra Le Touzel, como Fanny em MP 1983
     Jane Austen não nos mostra Fanny como  "Cinderela", a bela moça transformada em criada, Fanny era alguém comum, com atrativos que todos nós temos, uns mais, outros menos. Como é que a "pobrezinha" poderia tentar ser bonita, com as primas Maria e Julia consideradas muito melhores e com Mary Crawford, quase uma diva, admirada pelo primo que ela amava? Era batalha perdida.

     Aliás, esse tipo de "batalha" é bem semelhante em "Esposas e Filhas" (Elizabeth Gaskell), onde Molly observa sem ação, Cynthia, sua irmã (filha de sua madrasta), bela e devastadora de corações ficar noiva de Roger, a quem ela amava. Quieta e resignada, nada faz para que Roger perceba que Cynthia não será uma esposa adequada. Assim como Edmund, Roger no final, reconhece seu amor por Molly.
Molly e Roger
     Acho que qualquer um de nós na situação de vida de Fanny não conseguiria ser diferente. Apesar de tudo, ela sempre se mostra calma e lembra muito Anne Elliot, resignada, preocupada com os outros, de lado, desprezada, mas com belos sentimentos e um bom coração.
     Quanto à aparência física, imagino Fanny com os cabelos escuros como na versão de 1999 (embora não tenha gostado dessa versão; foge da obra verdadeira e é muito apelativa pra Jane Austen). Já a Fanny loira da versão de 2007 é um horror. Pra mim, nada a ver aquele cabelo com cara de descolorido e  a atriz Billie Piper não caiu bem no papel, sem contar que a versão também viaja...não é fiel à obra. 
Billie Piper como Fanny - MP 2007


     Acho que apesar de  ter os cabelos mais claros, a melhor Fanny é a de 1983, achei ela com todo esse aspecto de pessoa que faz tudo pra agradar e não consegue, sem contar que é a versão mais fiel ao livro.
    Bom, contudo, apesar de alguns até se irritarem pelo fato de que Fanny tenha se saído bem no final, acho que ela mereceu ter um final feliz, depois que quase todos, cheios de dinheiro e hipocrisia estavam quase desmoronados , Fanny ainda se conservava ali, com sua "tímida" beleza, que poucos conseguiram ver, além de Edmund Bertram.
fotos: serieuk.blogspot.com
         depoisdotrampo.com.br



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quinta-feira, 19 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 7)

"A beleza de Emma Woodhouse"
Romola Garai como Emma (loira) -2009
     Emma Woodhouse é tida como uma moça cheia de virtudes e beleza, nascida em berço de ouro. 
     De fato ela usa as melhores roupas, vive em uma bela casa, tem muitos amigos e pode se dar ao luxo de dizer o que quiser quando quiser pois não precisa tentar impressionar para conseguir aprovação, ou amigos ou um marido, aliás, Emma não tinha intenção de se casar. Pra que? 
      No período em que Jane Austen escreveu seus romances, o casamento para as mulheres tinha um significado diferente dos nossos dias. Hoje, uma mulher se casa porque encontrou "seu príncipe", quer ter seu lar, sua família, é livre em suas atitudes, pode trabalhar e ser financeiramente independente e mesmo assim escolhe se casar pois quer dividir seus dias com quem ama. Há duzentos anos atrás na sociedade inglesa, o casamento por amor era literalmente raro, a não ser entre os menos favorecidos, pois esses não tinham nada a perder nem a ganhar é como se diz, "juntavam as trouxas", mas para as mulheres de uma educação mais esmerada, como a maioria das heroínas de JA (e a própria autora), o casamento era como passar no vestibular; uma briga acirrada para a vaga de um pretendente e extremamente necessário para garantira tranquilidade no futuro.

     Emma, mesmo vivendo nesse contexto se mostra tranquila em relação a isso, pois é rica e mesmo que pensasse em se casar sabia que teria pretendentes a escolher, isso nos é mostrado ao longo do romance, onde a segurança que ela sente pela sua beleza e posição é tão grande que suas atitudes e palavras muitas vezes ofendem os que estão ao seu redor, por ela se sentir segura do que fala e convicta com a escolha dos pares amorosos que faz para os outros, achando que possui até uma certa intuição; vê sua opinião como irrepreensível.
Gwyneth Paltrow como Emma (loira) 1996
     O amigo da família Mr. Knightly, é o único que tenta fazer com  que Emma perceba seus exageros e erros em relação às pessoas. A atitude de Mr Knightly para com Emma é demais parecida com a de Elizabeth para com Mr. Darcy e é extrememante interessante como alguém acostumado a ser "paparicado", mimado e não contrariado se encanta com aquele que  lhe mostra seus erros e imperfeições! No primeiro caso, Emma reconhece que tem seus limites e que não conseguia enxergar um palmo diante do nariz, visto que convivia com Mr. Knightly e não percebia o que sentia por ele tentando empurra-lo à outra e no segundo Lizzie, que não tinha intenção alguma de ter Mr. Darcy como marido, lhe mostrou que existiam pessoas encantadoras fora da roda em que ele vivia.
Kete Beckinsale como Emma (morena) 1996/1997
     Afinal? Como era Emma Woodhouse? Ruiva, loura, morena... (eu penso em Emma loira mas gostei bastante da interpretação de Kate Beckinsale), o certo  é, que  seu perfil exato gira em torno de seu caráter e de sua riqueza, mas a conclusão é de Emma tinha uma auto-estima elevada pela sua posição social e isso fazia dela uma moça segura de sua beleza, mas coloco uma interrogação: será essa beleza seria assim tão aclamada e ela tão assediada, caso ela fosse menos favorecida? É...não é muito diferente do que vivenciamos hoje...
foto:janitesonthejames.blogspot.com



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domingo, 15 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 6)

"A beleza de Anne Elliot"
     Assim como Marianne Dashwood após uma decepção amorosa, Anne Elliot aparece o livro todo com sua beleza apagada. É diferente das outras heroínas de Jane Austen; já está com 27 anos e é considerada uma "solteirona" para a época em que se passa o romance. O semblante sempre triste e introspectivo"...havia perdido o frescor da juventude...". A impressão que se tem é que toda a sua vivacidade, alegria e beleza da juventude estão dentro da caixinha que guarda as cartas do Capitão Wentworth. 
      É quase um baú de tesouros, que quando aberto faz Anne voltar no tempo, chorar e se arrepender, arrepender e arrepender... tornando-a ainda mais abatida e solitária.
     Ao contrário  da   irmã mais velha, Elizabeth Elliot, vaidosa,   orgulhosa e dona de si, Anne é simples em sua vestimenta,  opiniões e atitudes (ao meu parecer, não tão simplória quanto o figurino de Anne de 2007-BBC). É sensível, amável, extremamente responsável, o que lhe  custou  renunciar  ao  seu  amor  e noivado para atender um  conselho "amigo"  de  Lady  Russell, que  queria  evitar  que ela fizesse um casamento mal estruturado,  pois   Frederick  não  possuía  nenhuma expectativa para o futuro e nem fortuna e ela era filha de um "baronete" (a propósito, título que na realidade não  faz  parte  da   realeza).  Anne,  mesmo  amando Frederick,  atendeu   a  Lady   Russell  (que  tinha  em grande   conceito   a   posição   social,   conexões    e dinheiro),  achando  que  o  rompimento  seria melhor para ela.
     Anne tem em seu caráter uma mistura de Marianne e Elinor. Romântica, sonhadora, fiel ao seu coração e ao mesmo tempo cautelosa, esperançosa e muito racional. 
     Como Elinor, não procurava oportunidades para realizar seus sonhos, esperava que o destino os trouxesse em suas mãos.  
     O fato de ter sido persuadida a não se casar com Frederick Wentworth aos 19 anos, de forma alguma revela que Anne tinha um caráter fraco, falta de firmeza ou personalidade, como ele muitas vezes a julgou, pelo contrário, ela era muito inteligente e responsável e essa maturidade fez com que, por ser ainda muito jovem, aceitasse o conselho de Lady Russell, que tinha como grande amiga e confidente. 
Sally Hawkins como Anne Elliot - Persuasão 2007
     Depois de passados 8 anos, o destino trouxe seu amor para perto dela novamente, agora em vários ângulos diferentes: Frederick era mais velho e rico, via Anne como fraca de caráter, um péssimo defeito para alguém que como ele era decidido, firme e ambicioso; havia ainda a mágoa do abandono embora ainda a amasse. 

“Ela o vira. Eles se encontraram. Estiveram mais uma vez na mesma sala.” (Persuasão)

Amanda Root como Anne Elliot - Persuasão 1995
     Por outro lado, Anne já perdera o florescer de sua beleza, pois tinha já 27 anos (idade já em declínio da juventude para início do século XIX, quando as moças se casavam muito jovens; aos 15 já eram apresentadas à sociedade em busca de um pretendente) e o receio de que Frederick, um homem  inteligente, firme, de boa aparência e rico, jamais iria lhe perdoar ou amar novamente.


“Nunca houve dois corações mais abertos, nem gostos mais semelhantes ou sentimentos mais em sintonia!”
(Persuasão)

    Um pequeno parenteses: A maturidade faz também com que certos aspectos da personalidade se tornem mais claros e o que muitas vezes é um defeito, no futuro pode significar uma qualidade e vice-versa. 
     Uma criança ou adolescente, muitas vezes visto como teimoso, pode no futuro provar que seu caráter não era esse e sim de alguém persistente e isso é uma qualidade e não um grave defeito, ao contrário, outro que só sabe fazer o que lhe foi mandado e tido como bonzinho e obediente, poderá ter mais tarde um caráter demasiado passivo e tímido, alguém sem iniciativa pra nada e dependente. Nossas atitudes e traços de personalidade nunca podem ser obsessivos, tudo dentro de um contexto, cada qual na sua hora e no momento certo; são sempre "bons servos e maus senhores", tudo é cabível desde que sabemos dominá-los e controlá-los.
Ann Firbank como Anne Elliot - Persuasão 1971
     Foi o que aconteceu com Frederick Wentworth: Louisa Musgrove, que parecia o oposto de Anne, uma moça alegre, centro das atenções, bonita, confiante e que parecia ter uma excelente firmeza de caráter e saber o que queria, quando caiu em Lyme, demonstrou ser uma pessoa obstinada e infantil, não ouviu ninguém, não mediu consequências, e fez o que estava determinada a fazer, sofrendo um sério acidente e Anne, preocupada com a família, quieta e tão mal julgada provou para ele sua firmeza em suas atitudes, sua maturidade, juízo e a constância de seu amor. Seu encanto interior superou a exterior.
     F. Wentworth, reconheceu que a beleza de Anne era extraordinária! Que não existia ninguém tão doce e que jamais amaria alguém como ela. Partiu então em busca de seu feliz destino, o mesmo destino que Anne em sua paciência e resignação, esperava chegar em suas mãos.

...I am half agony, half hope...unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant...a word, a look, will be enough to decide whether I enter your father's house this
evening or never."




(...Eu sou metade agonia, metade esperança... Eu posso ter sido injusto, fraco e ressentido, mas nunca inconstante...uma palavra, um olhar, será suficiente para que eu decida entrar em casa de seu pai esta noite ou nunca.”)

F. Wentworth
   (Persuasão)
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quarta-feira, 11 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 5)

"A beleza de Marianne Dashwood"
     Marianne Dashwood é a irmã mais nova de "Razão e Sensibilidade"(Jane Austen). Enquanto Elinor representa o lado "razão", Marianne é a "sensibilidade ou sentimento". 
     Como foi citado no post anterior sobre o parecer psicológico do romance, Marianne por ser a mais nova, traz todo o romantismo adolescente (entre 16 e 17 anos) e a profundidade das emoções.

       Sua beleza é sem dúvida grandiosa, é tida como "incrivelmente bonita" por seu meio-irmão John Dashwood:...a moça mais linda que já vi na minha vida; daquele tipo que atrai os homens. Havia no estilo da beleza dela esse algo que agrada demais aos homens..
Charity Wakefield como Marianne - R&S 2008.  
     Mas o sofrimento e a grande melancolia causados pela decepção com Willoughby, tornaram Marianne apagada, aprofundada em sua tristeza, como se não houvesse felicidade depois de tal acontecimento:
...é impossível não se notar que existe algo de errado com uma moça que teve uma grande beleza e de repente perde toda a atração pessoal. Talvez o senhor não saiba, porém Marianne era incrivelmente bonita há alguns meses... (John Dashwwod a Coronel Brandon).

...lembro-me de que Fanny costumava dizer que Marianne iria se casar muito antes e muito melhor do que você...agora, veja ao que ela se reduziu! O florescer dela durou muito pouco! Pergunto-me se Marianne, agora, irá casar-se com um homem que tenha quinhentas ou seiscentas libras por ano, no máximo... (John Dashwood a Elinor).

Ciaran Madden como Marianne
R&S 1971
    Jane Austen, sempre com ironia e trazendo fatos da sociedade em que vivia, vem mostrar com essa passagem, que o sentimentalismo de Marianne precisou de uma decepção pra que ela amadurecesse e visse as coisas de uma outra forma:
Tracey Childs como Marianne - R&S 1981 
...Marianne Dashwood havia nascido para um destino extraordinário. Havia nascido para descobrir a falsidade das próprias opiniões e para ir contra suas convicções por sua própria conduta. Ela nascera para sobrepujar uma afeição surgida em sua jovem vida de dezessete anos e para, com um sentimento não superior a uma alta estima e profunda amizade, dar voluntariamente sua mão a outro homem! E esse outro era o homem que havia sofrido não menos do que ela por causa de uma afeição anterior, o homem que, dois anos antes, ela havia considerado velho demais para se casar...
     O amor para com Coronel Brandon, que ela tanto desprezava, mostrou seu amadurecimento emocional  aos dezenove anos e a crença em outras coisas da vida que ela não acreditava ser possível:
...e os amigos, que observavam, encantaram-se e regozijaram-se com a felicidade que Marianne demonstrava: ela jamais soubera amar pela metade e seu coração foi devotado por inteiro ao marido, como outrora fora devotado a Willoughby.
     Todos esses detalhes são claramente vistos após seu casamento com Coronel Brandon, pois sua beleza voltou a florescer:

Kate Winslet como Marianne - R&S 1995
...nenhuma beleza das maiores belezas em ascensão, nos dias que se seguiram, nem sequer podiam comparar-se com a beleza da Sra. Brandon.
   Marianne, outrora, por causa de seu "coração partido", teve até seu encanto comprometido; tinha  em seu rosto, em seu olhar e nas atitudes seu combatimento, ao passo que Elinor, que guardava seus sentimentos, tristezas e emoções, continuou serena em sua beleza.
    Acredito que mais uma vez, aqui com Marianne Dashwood, Jane Austen nos mostra a beleza de suas heroínas em caráter amplamente psicológico: como vão o espírito e as atitudes diante dos acontecimentos, vão também o semblante e por conseguinte, a beleza.
Foto:austenprose.com


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segunda-feira, 9 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 4)

"A beleza de Elinor Dashwood"
    Pouco Jane Austen nos fala da beleza física de Elinor, mas tudo leva a crer que ela era uma moça muito bonita: ...quase tão linda quanto Elinor...(John Dashwood).
     Penso que Elinor tinha uma beleza tranquila e dócil, de maneiras educadas, delicada e gestos calculados, calma, era de tez clara, talvez tivesse os cabelos louros ou castanhos, comum na população inglesa, mas também gostei da versão de 2008, com Elinor de pele e olhos claros e cabelos mais escuros, a contradição é que no livro, Jane Austen diz que as irmãs Dashwood eram demasiadamente parecidas e Marianne sempre é mostrada como loira, neste caso, 
há certa incoerência.
Hattie Morahan como Elinor Dashwood
R&S 2008
 Dos livros de JA, "Razão e Sensibilidade" é o que acho mais intrigante. A abertura da série de 1981, faz um parecer muito especial:
Abertura de R&S 1981
   As duas irmãs em uma gangorra como se tentassem um equilíbrio. Acredito que essa é a essência dessa obra e da beleza e personalidade das irmãs Dashwood!
   Muitos afirmam que Elinor foi inspirada em Cassandra, irmã de JA e o livro, na amizade que as unia, mas acredito que a relação entre as irmãs Dashwood é muito mais complexa. 
     Nos meus tempos de faculdade, fui encorajada a observar o que via e enxergar um "segundo plano", mais ou menos como "procurar chifre em cabeça de cavalo", pois a Arte, (assim como a Literatura) é uma representação de algo profundo e não só uma pintura, música ou escultura "bonitinhas". É por esse motivo que vejo esse relacionamento entre elas com grande fundo psicológico. Por quê? Ao meu ver, Elinor e Marianne nada mais são do que os lados da razão e emoção que todos nós temos, homens (mais a razão) e mulheres (mais a emoção), neste caso, JA retratou a figura feminina entre duas irmãs/amigas, inseparáveis como esses dois sentimentos dentro de nós.
    Elinor, o caráter "Razão", psicologicamente subentendido, por ser a irmã mais velha (pois  a medida que o tempo passa e amadurecemos, nossos sentimentos se tornam naturalmente mais racionais). Ela é firme, pensa antes de agir, não demonstra seus sentimentos em público, e extremamente madura para a idade de 19 anos. Por essa razão apesar de ter gostado das diferentes interpretações feitas para  Elinor, não achei muito estranho quando Emma Thompson, então com 40 anos fez esse papel. Mais uma vez observando um segundo plano, ela retratou  
fielmente essa maturidade de Elinor.
Emma Thompson como Elinor Dashwood
R&S 1995
    Já vi várias mulheres que dizem gostar mais de Elinor do que de Marianne. Outras ainda, que gostariam de ser como ela, pois era mais consciente, firme e não deixava que a emoção passasse sobre a razão e a fizesse agir de forma errônea, tinha bom senso, o oposto da irmã que numa explosão de sentimentos, não se preocupava com o que estava ao redor e quem a observava.
   Todos nós, que conhecemos o perfil de JA, sabemos que ela era uma mulher muito perspicaz e  extremamente inteligente e ouso afirmar que esse conflito de Elinor e Marianne era presente em seu caráter  constantemente. JA era como Elizabeth Bennet, "não tinha papas na língua", como dizem, mas imaginem no início do séc. XIX, onde a mulher  não tinha crédito e nem vez; a dificuldade em ver certos comportamentos e ter controle sobre as emoções! Isso era desejável, mas nem sempre conseguido. Se formos abrir um parêntesis sobre vários fatos da vida de JA e de suas personagens que nos provam isso...(pretendo fazer um post só sobre  esse assunto)Mas o fato mais relevante nessa obra de JA aqui neste post é esse: as irmãs Dashwood retratam o "Eu e o Ego" que existe dentro de cada um de nós (em poucas palavras: o eu é a nossa essência, o que somos verdadeiramente e o ego, aquilo que somos pela nossa cultura, padrões de comportamento e bom senso). A razão é sempre necessária, pois mostra equilíbrio, mas a emoção existe e se ela não pode ser mostrada, sofremos, (claramente o que nos passa  "Razão e Sensibilidade").
Irene Richards como Elinor Dashwood
R&S 1981
     Contudo, não lhe faltou sentimento, Elinor não deixou de amar, ela sofria por seu amor mas não demonstrava, apesar disso seu sofrimento não foi menor, um homem tido como sem beleza, comum, que Marianne, demasiadamente romântica, jamais aprovou como "alma gêmea" da irmã, apesar de gostar de Edward, mas para Elinor, só o amor bastava e mesmo assim ela conseguiu ser feliz ao lado dele.
 A grande afinidade entre as irmãs Dashwood está nessa procura de equilíbrio emocional dentro de nós:
    Por essa convicção de que Elinor e Marianne são frutos de nossos conflitos internos de emoções, é óbvio que a aparência física no romance se torna secundária, mas vejam que frase enigmática:
...a semelhança física entre Marianne e a irmã impressionava... (R&S ,cap. I) pois é como se fossem uma só, cada uma com um extremo, dificilmente alguém real (embora possível), pode ter um só lado tão aguçado. Quem de nós nunca teve que se controlar diante de uma grande emoção ou ofensa e quem não perdeu as estribeiras ou falou demais?
Joanna David como Elinor Dashwood
R&S 1971
     Para encerrar essa "análise" de beleza (interior e exterior) de Elinor Dashwood, coloco alguns trechos do primeiro capítulo de R&S (para maior compreensão, seria interessante a leitura completa do capítulo) onde JA faz claro essa ambiguidade entre razão e emoção, cada característica é determinada por uma delas, sempre afirmando também as semelhanças, portanto mostrando o equilíbrio procurado (encontrado) dentro de nós mesmos: a amizade e companheirismo de Elinor e Marianne:



     ...Elinor, a filha mais velha cujo conselho fora tão acertado, tinha um poder de compreensão e uma firmeza de julgamento que a haviam tornado, apesar de ter apenas dezenove anos, conselheira da mãe e a qualificavam para contrabalançar, em proveito das quatro... tinha excelente coração - era afetuosa e de sentimentos fortes, mas sabia como controlá-los...via com grande consternação o excesso de sensibilidade da irmã...ambas se encorajavam quer na violência, quer na aflição. A agonia de um desgosto, que as subjugava em princípio, era em seguida renovada por vontade própria, alimentada, recriada uma vez, outra e mais outra...porém se mantinha disposta a lutar e a dar ânimo a si mesma...(R&S, cap.I).
foto R&S 1971: janeausten.com.br
http://janeausten.com.br/2012/03/vestuario-elinor-dashwood-1971

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"A beleza das heroínas de Jane Austen":
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2- Elizabeth Bennet
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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 3)

"A beleza de Jane Bennet"

Rosamund Pike como Jane Bennet - O&P 2005 
     Isso é incontestável. Ninguém precisa dizer que Jane Bennet era uma moça bonita porque todo mundo já disse:

... - Você está dançando com a única moça bonita do salão...(Mr. Darcy).

... - Oh, ela é a mais bela moça que já vi na minha vida! (Mr.Bingley).

... ela(Lizzie)não é mais bonita que Jane... (Sra. Bennet).

...- Nada mais natural do que ele solicitá-la para outra dança. Não podia deixar de reconhecer que você era cinco vezes mais bonita do que qualquer outra moça na sala.(Lizzie)

... E perguntou também qual era a que ele achava mais bonita. Mr. Bingley respondeu imediatamente: "Oh, a mais velha das senhoritas Bennet, sem dúvida. Não deve haver duas opiniões a este respeito". 

...- Tinha certeza de que a sua beleza acabaria triunfante!(Sra. Bennet)
(Trechos de "Orgulho e Preconceito")
Suzannah Harker como Jane Bennet - O&P 1995  
     O livro não fala da aparência física de Jane, mas tudo indica que ela não era tão alta(as mulheres inglesas são geralmente altas), pois Lydia dizia que era a mais alta (fato que as versões em vídeo não levam a sério), deveria ser então mediana, visto que dançou com Mr. Bingley várias vezes (e os homens ingleses são igualmente de grande estatura) e ninguém citou o fato de ela ser "baixinha".
     Na versão de O&P de 1980, a atriz Sabina Franklyn com cabelos escuros e nem tão bonita, ao meu ver, não teve nada com a Jane Bennet que Jane Austen nos passa. 
Sabina Franklyn como Jane Bennet - O&P 1980
      Quanto à cor dos cabelos e dos olhos, Jane Austen também não nos contou, mas assim como (na minha imaginação) Elizabeth tem que ser de olhos e cabelos escuros, Jane era de castanha clara para loira e seus olhos acredito que fossem claros. Se azuis, não muito chamativos, pois o parecer de seus olhos não eram comentados, mas penso que eram de verdes suaves a um castanho claro ou mel. Não consigo imaginar uma Jane Bennet morena. Que vocês pensam a respeito?
Alinne Moraes
     Se eu fosse fazer uma versão brasileira (vai vendo), eu teria em mente a atriz Alinne Moraes para Jane Bennet (ainda quero fazer um post sobre essa coisa de escolher atores). 
Alinne Moraes
         Acho que ela daria uma Jane Bennet bem fiel ao livro, mas quem discordar, tudo bem, aceito opiniões:
   
Rosamund Pike

Fotos:
pemberley-state-of-mind.tumblr.com
ospaparazzi.com




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quarta-feira, 4 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 2)

"A beleza de Elizabeth Bennet"
     Nenhum de nós vai dizer que Lizzie não era bonita, mesmo porque ela é a preferida das heroínas de Jane Austen e por conseguinte, a que conquistou o coração do famoso Mr. Darcy, então, noventa e nove entre cem leitores vão dizer que Elizabeth Bennet era bonita.
    Jane Austen diz que Lizzie tinha belos olhos (fine eyes), mas não cita a cor deles. Sabendo que os olhos castanhos estão na maioria da população, portanto comuns, supõe-se que os olhos de Elizabeth fossem castanhos, mas sem dúvida ela tinha um olhar encantador, talvez Jane Austen, com toda ironia que lhe era peculiar, citava esses "belos olhos" como um caráter de sua personalidade aguçada, observadora, um olhar sem dúvida, crítico e pronto a analisar e porque não dizer, julgar a seu modo.
     Os cabelos também não são comentados, mas não consigo ver uma Elizabeth loira ou castanha, pra mim ela era morena, de tez clara, como representaram Keira Knightly e Jennifer Ehle. Elizabeth Garvie fez excelente interpretação e tinha um belo olhar, mas acredito que os cabelos deveriam ser escuros. Que acham?
Elizabeth Garvie como Elizabeth Bennet, 
O&P 1980, com cabelos escuros
     O fato mais intrigante, é que nem mesmo o mais interessado, Mr. Darcy, achou que Lizzie fosse bonita à primeira vista, embora Mr. Bingley achasse o contrário:
...– Você está dançando com a única moça bonita do
salão – disse o sr. Darcy, olhando para a mais velha das meninas Bennet.
– Ah! Ela é a criatura mais bela que já contemplei! Mas há uma de suas irmãs, sentada bem atrás de você, que é muito bonita e, atrevo-me a dizer, muito agradável. Deixe-me pedir à minha parceira de dança que a apresente a você.
– De quem você está falando? – e dando meia-volta
olhou por um instante para Elizabeth, até que, atraindo-lhe o olhar, desviou o seu e disse com frieza: – Ela é aceitável, mas não é bonita o bastante para me tentar...,
(conversa entre Mr. Bingley e Mr. Darcy - "Orgulho e Preconceito"). Depois, conhecendo a beleza de sua personalidade firme não exitou em dizer que Lizzie era uma das mulheres mais bonitas que conhecia.
     Com certeza, como a obra nos mostra, Elizabeth não teve uma educação tão esmerada como era de se esperar à alta sociedade inglesa daquela época: não tocava bem o piano, não desenhava, não possuía um andar elegante como da Srta. Bingley e talvez tivesse alguns modos simples, como o fato de não se importar em estar com os cabelos desalinhados e as botas enlameadas quando visitou Jane em casa dos Bingley. Isso mostrou a Mr. Darcy uma mulher autêntica. A beleza que tinha era aquela que todos podiam ver.



Foto: austenprose.com (modificada)




Outros tópicos desta série:
"A beleza das heroínas de Jane Austen":
1- Estética
2- Elizabeth Bennet 
3- Jane Bennet
4- Elinor Dashwood
5- Marianne Dashwood
6- Anne Elliot
7- Emma Woodhouse
8- Fanny Price
9- Catherine Morland
10-Mary Bennet

domingo, 1 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 1)

"Estética - O que é beleza?" 

"Monalisa" - Leonardo da Vinci - Fotografada no Museu do Louvre/Paris

     Antes de falar propriamente sobre a beleza nas heroínas dos livros de Jane Austen, vamos falar de Estética: A definição de Estética é bem complexa, tanto que é estudada pela Filosofia (pensar, pensar, questionar, duvidar e pensar), pois é... A estética estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo e como isso causa em nós as emoções e sensações ao contemplar tal objeto (tratando-se da arte). 

Renoir - "Meninas ao piano"

     Estuda também a falta do belo e a percepção do feio e do ridículo. 
Henrique VIII - por volta de 1530
       Coisas muito diferentes podem parecer igualmente belas? Sim! O que nos dá a convicção de bonito ou feio? Isso tem a ver com padrões da Época? Moda? Tendências na Arte? Moralidade? Cultura? Gostos pessoais? Sem dúvida que sim! 
Moda feminina no período Barroco

     Por isso, todo cuidado é pouco para “julgar” a beleza alheia.

Elizabeth Taylor como Cleópatra - 30 a.C.
     Com certeza, a escolha de atores e atrizes para interpretar papéis cinematográficos ou teatrais é muito difícil, principalmente quando se trata da construção de uma personagem de dois séculos atrás. Não se tem definições mais pormenorizadas (salvo raras exceções) de cor e tipo de cabelo, formato do rosto, olhos, boca, nariz, estatura, etc, simplesmente descrições como: “Bonita ou Bela” e outros complementos de personalidade.

     Uma mulher bonita nos tempos atuais ( onde se quer um corpo esguio) poderia sem dúvida ter aspecto doentio em 1800 e uma das heroínas dos tempos de Jane Austen certamente seria hoje chamada de “fofa”. Isso são padrões estéticos e com certeza têm de ser adaptados a cada espaço de tempo se quisermos ter as sensações de beleza descritas nos livros.

Jovem da época de Jane Austen

      Mas não queremos discutir a beleza de ninguém, só tentar estudar mais a fundo o perfil de cada uma, afinal “Quem ama o feio, bonito lhe parece...”

   Neste pequeno "estudo" quero falar de algumas personagens e dos aspectos de sua beleza. Vou dividir, colocando em pequenas partes como capítulos. 

     Na segunda parte desse "estudo" falaremos sobre Elizabeth Bennet. Até!

Jennifer Ehle, como Elizabeth Bennet - O&P 1995
Fonte:
jornaldedebates.uol.com.br
www1.folha.uol.com.br
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charm-chic.blogspot.com.br
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