domingo, 19 de janeiro de 2014

Mr. Darcy e o susto em Pemberley - (Reencontros - parte final)

     Acho que esse reencontro é um dos mais memoráveis das obras de Jane Austen. Um reencontro bem "saia justa". Para Elizabeth Bennet constrangedor  e o "pobre" (no sentido de indefeso, claro) Mr. Darcy, que jamais imaginaria encontrar Lizzie ali em sua propriedade, todo sem graça tentando ser um excelente anfitrião. Um verdadeiro susto para os dois, mas relevante para o desfecho da estória. É muito bonito ouvir Lizzie dizer: - Mr. Darcy!!! Não sabendo onde se esconder, como se explicar, tentando disfarçar o rubor da face e ainda se recompor, ainda mais Lizzie que amava andar pelo campo toda descontraída, deve ter sentido que aquele encontro foi mesmo "fora de hora". Hummmm... acho que foi mesmo no momento exato; um luxo literário!!!

    "...Enquanto atravessavam a relva em direção ao riacho, Elizabeth voltou-se para tornar a ver a casa; sua tia também se detivera, e, enquanto a primeira fazia conjecturas sobre a data em que o edifício, fora construído, o proprietário em pessoa surgiu de súbito na alameda que conduzia às cocheiras, do outro lado da casa.

    Encontravam-se a cerca de vinte jardas um do outro, e o seu aparecimento fora tão repentino que se tornara impossível a Elizabeth esconder-se. Os seus olhares imediatamente se cruzaram e ambos coraram de modo intenso. Ele teve um sobressalto e por momentos a surpresa paralisou-o; mas, voltando imediatamente a si, adiantou-se para o grupo e dirigiu-se a Elizabeth, senão com uma calma absoluta, pelo menos com uma amabilidade sem limites.

    Elizabeth, que se virara instintivamente, ao vê-lo aproximar-se, deteve-se e recebeu os seus cumprimentos com um embaraço impossível de dominar. Se a sua aparência, a princípio, ou a sua semelhança com o retrato que tinham acabado de examinar não bastassem para o Sr. e a Sra. Gardiner perceberem que se encontravam perante o Sr. Darcy em pessoa, a expressão de surpresa do jardineiro ao ver o seu patrão teria sido suficiente para o revelar.

     Conservaram-se um pouco afastados, enquanto ele conversava com a sua sobrinha, e esta, atônita e embaraçada, mal ousava levantar os olhos e respondia inconscientemente às perguntas de cortesia que ele lhe fazia sobre a sua família.

     Extremamente surpresa com a alteração dos seus modos desde a última vez que o vira, cada frase que ele pronunciava aumentava ainda mais a sua confusão; e tomando de novo consciência de toda a inconveniência de ele a encontrar ali, os poucos minutos em que estiveram juntos tornaram-se os mais penosos da sua vida. Também ele parecia não estar muito à vontade. Enquanto falava, o tom da sua voz não aparentava a firmeza habitual; e as perguntas várias vezes repetidas de quando ela saíra de Longbourn e por quanto tempo se demoraria no Derbyshire, assim como o atropelo com que ele as pronunciava, tornavam evidente quão distantes os seus pensamentos andavam.

     Por fim, nada mais encontrou para dizer; e, após ter permanecido alguns momentos sem dizer palavra, o Sr. Darcy voltou de súbito a si e despediu-se.(...) (J. Austen, "Orgulho e Preconceito" - cap. XLIII)


Versões da obra em vídeo:

     A de 1980, achei um pouco fraca. Lizzie pareceu assustada mas acho que faltou aquela surpresa típica de se encontrar alguém inesperadamente. Já Mr. Darcy nessa versão é quase um robô e nessa cena  ele só sabe fazer um gesto (que não parece ser de surpresa), tirar a cartola. Básico!
        
     A de 1995 é um "loosho"! Embora a cena do lago não esteja na obra, concordo que foi muito bem elaborada. Mostrou um Mr. Darcy que chega de viagem cansado e feliz por estar em casa  e aproveita para dar um rápido mergulho no lago de sua propriedade. Dá ênfase também ao seu descontentamento no plano sentimental quando senta-se para afrouxar o colarinho e faz uma breve contemplação do horizonte, como se pensasse na vida. Que outros problemas teria ele se não fosse os do coração? É algo como se as árvores dissessem: ele nem imagina quem vai encontrar em poucos minutos... Lizzie também foi ótima! Ao mesmo tempo que se mostra surpresa, tenta disfarçar o constrangimento por ver Mr. Darcy em "trajes menores" (digamos que pra época, aquela camisa branca era "underwear"). As perguntas repetidas que Darcy faz a Lizzie quando a vê e todo aquele diálogo inibido e polido entre os dois é excelente. A melhor!
     
     A versão de 2005 também gostei. Foi uma tomada diferente, onde Lizzie vê o irmão amoroso que é Darcy e se envolve com a música que vinha do piano de Georgiana. Eu, sou suspeitississsisssima (como dizia o Chaves) pra falar, pois amo música,  amo o piano e acho o máximo a trilha sonora dessa versão, mas também gostei quando ela foi descoberta por Mr. Darcy e ficou toda embaraçada tentando se explicar e os dois falando ao mesmo tempo... Cena linda! Bem graciosa e romântica:
    O que também me faz gostar demais desse reencontro tanto no livro, (claro que aqui a gente só imagina) como nessas três versões, é o cenário (lugar) onde ele acontece: maravilhoso! Tanto para as cenas externas como nas internas! Nem em Paris seria tão romântico, afinal, Pemberley, é Pemberley!