sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Capitão Wentworth...o reencontro depois de tanto tempo - (Reencontros - parte 1)

   Quem não se emocionou com o esperado reencontro de "Persuasão" (Jane Austen)? O momento em que Anne Elliot revê o Cap. Wentworth depois de esperançosos e (desesperançosos) oito anos. 
  Se pudesse, ela teria evitado! Anne era consciente que depois de oito longos anos muita coisa havia mudado e apesar de ela ainda amar Wentworth, sabia que ele não havia lhe perdoado pelo rompimento do noivado e pela fraqueza de caráter; foi realmente uma situação inquietante e delicada para ela, pois apesar do medo e receio, Anne desejava demais revê-lo! 
        "Os seus olhos encontraram-se com os do comandante Wentworth; uma saudação, uma cortesia.
      Ela ouviu-lhe a voz - ele falava com Mary; disse as palavras corretas; disse algo às Meninas
Musgrove, o suficiente para indicar que estavam de boas relações; a sala parecia cheia - cheia de
pessoas e vozes mas tudo terminou passados poucos minutos.
      Charles apareceu à janela, estava tudo pronto, o visitante tinha feito uma saudação e saído; as
meninas Musgrove também se foram embora, tendo decidido subitamente ir com os caçadores até ao extremo da aldeia, a sala ficou vazia, e Anne tentou terminar o pequeno-almoço o melhor que pôde.
    -Já passou! Já passou! - repetiu para si própria, numa gratidão nervosa. - O pior já passou. Mary estava a falar, mas ela não conseguia prestar atenção. Ela vira-o. Tinham-se encontrado. Tinham voltado a estar na mesma sala!" 
(Jane Austen - "Persuasão" - cap. 7 - trad. portuguesa)

  Semelhantemente, as cenas dos filmes das adaptações feitas deste livro são muito bonitas!
    A de 1971, mostra apenas uma saudação silenciosa entre os dois. Anne parece nervosa, mas pouco demonstra:
   
    A de 2007, mostra uma Anne bastante emocionada. Gostei da cena dessa versão  pela tomada com o Cap. Wentworth bem de perto, afinal, a surpresa e a comoção no reencontro também ocorreu com ele. Dá pra ver que há certa tensão por parte dele também. 
    
     A de 1995, é para mim a que mais revela a inquietação de Anne em revê-lo. Seu olhar é muito convincente! Mostra sua surpresa e comoção. A cena de suas mãos segurando a cadeira é sem dúvida bem realista; a emoção foi mesmo intensa. Ela estava abalada, enquanto  Cap. Wentworth parece manter o controle, bem de acordo com o livro que conta que na verdade Wentworth não havia perdoado Anne e agora só pensava em ser feliz e se casar com outro alguém, então, apesar da emoção (no fundo ele não tinha encontrado alguém como Anne), tentou manter o controle emocional (os homens sempre conseguem isso melhor).
     Quando podemos demonstrar o amor por alguém que não vemos há muito tempo é tão fácil...um grande abraço, um beijo... mas tentar disfarçar um sentimento há tanto tempo contido (perante todos) não é nada fácil... Anne era sem dúvida muito resignada. 

http://portugues.free-ebooks.net/tos.html

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Doces (e salgados) reencontros nas obras de Jane Austen (Reencontros - introdução)

     Quando lemos um livro, podemos imaginar os fatos... então, né... às vezes tiramos os olhos das palavras e ficamos imaginando aquela passagem... então, né... lemos de novo pra fixar melhor... e parece até que fazemos uma "câmera lenta"... então, né... e então... finalmente seguimos em frente com o livro "pra participar" do que vem depois daquele acontecimento chave! Acredito que é assim com vários livros, várias passagens... e não poderia deixar de ser com aqueles trechos culminantes, aquelas páginas de nossos livros que ficam mais amareladas e gastas ou até mesmo onde o livro abre sozinho. Por que será? 
     Coisa linda é um reencontro. Seja ele esperado, muito esperado, emocionado, forçado ou até evitado.
   Reencontros de pessoas queridas são sempre maravilhosos, mas e em se tratando da pessoa amada, que não temos um compromisso? E se esse reencontro acontecer de forma inesperada, com algum assunto ou sentimento mal resolvido? Nestes casos, pode ser quase um "susto", tanto pela emoção causada em rever quem se ama como por não ser nas condições que esperamos. 
     Que tal relembrar alguns belos reencontros dos heróis (ou quase) e heroínas de Jane Austen? Ou melhor, que tal "reencontrar" os "reencontros"?

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

As belas madeixas do tempo de Jane Austen - Cuidando da beleza no séc. XIX - parte final


Ainda no século XVIII
     Acredite: Cabelos no séc. XVIII eram sinônimo de "obra de arte", daquelas dignas de museu, com verdadeiras esculturas:
     Maria Antonieta era a grande "lançadora de moda" e a corte francesa juntamente com o resto da Europa, copiava. 

     Eram utilizadas armações e enchimentos para dar sustentação ao penteado que depois era salpicado de talco ou farinha (mais comum) para dar o efeito branco.
Convenhamos que foi um século de exageros, mas a moda dos cabelos era realmente de tirar o fôlego, principalmente com os possíveis acidentes que poderiam ocorrer em virtude desse "requinte":
Cabeleira pegando fogo.
Tão altos eram os penteados que corriam
o risco de serem incendiados pelas velas dos lustres.
O século XIX, um pouco mais modesto;

      Dos cuidados com os cabelos no início do século XIX, (xampu, condicionadores, cremes, máscaras, como temos atualmente) pouco se sabe.    
      Não se menciona uma receita para  shampoo ou similar. O que se conclui, é que o próprio sabão utilizado para o banho poderia ser utilizado nos cabelos, mas isso não era tão comum: o que se pode afirmar, é que os cabelos eram lavados com uma frequência bem menor do que é hoje em dia, e mesmo assim muitas vezes apenas com água, sem sabonete.

     Jane Austen, como toda mulher, também admirava os cabelos de outras e por certo devia também cuidar do seu. Aqui, dois trechos de cartas em que ela escreve sobre os cabelos das conhecidas:


"I cannot anyhow continue to find people agreeable; I respect Mrs. Chamberlayne for doing her hair well, but cannot feel a more tender sentiment" – Jane Austen, 1801

"Eu não posso de maneira alguma continuar encontrando pessoas agradáveis. Eu respeito a 
Sra. Chamberlayne por fazer seu cabelo muito bem, mas não posso ter um sentimento mais terno."


"She looks very well, and her hair is done up with an elegance to do credit to any education." – Jane Austen, 1813

"Ela parece muito bem e seu cabelo é feito até com uma elegância de fazer crédito a qualquer educação."

(Fiz uma tradução livre, se alguém tiver uma melhor, fique livre para comentar, agradeço)

     
     Vale lembrar que até o início do século XX, poucas pessoas tinham acesso aos sabonetes "de loja", a maioria se utilizava dos sabões caseiros que eram ainda mais agressivos que os atuais sabões em pedra.
    Imagine tratar das madeixas com tal produto! Precisava ser bem "valente"!!! 
      Dessa forma, para que a oleosidade natural fosse preservada e se pudesse conservar um cabelo macio e brilhante, alguns ficavam um ano ou até mais tempo sem passar sabão ou sabonete nos cabelos, que depois de algumas semanas de "adaptação", ficava muito macio e brilhante mas com certeza ainda com muita oleosidade. 
     O "aroma", (se é que se era percebido em uma época que era avessa à higiene) podia ser "encoberto" com perfume.

      O que tornava ainda mais complicado os cuidados com os cabelos, era que as mulheres mantinham seus cabelos compridos, quando não, muito compridos, (Laura Ingalls Wilder, escritora americana, nascida em 1867, tinha os cabelos até o calcanhar). 
Martha Matilda Harper,
americana que nasceu no séc, XIX
e que foi a primeira a montar
um salão de beleza público.
     Cabelos soltos ou até com tranças soltas, eram para as meninas pequenas (estar com os cabelos soltos era como estar "muito a vontade" e mostrava uma certa intimidade da mulher),
Elizabeth e Jane Bennet -
"Orgulho e Preconceito" - 1995
as moças e senhoras tinham por hábito ter os cabelos presos, o que abafava ainda mais o couro cabeludo, sem contar que ainda protegiam a cabeça com chapéus, era de fato algo para se pensar...
Produto para tonificar os cabelos,
formulado por Martha Matilda Harper
     Pensando bem, não era nada, nada, nada fácil lavar os cabelos sem água encanada, no frio inglês (ou europeu, ou americano), ter que ficar com os cabelos (compridos) soltos até secarem... realmente não era uma tarefa das mais fáceis. 
Jane Bennet secando os cabelos junto
 à lareira - "Orgulho e Preconceito" - 1995
    Sendo assim, venhamos que aquela coisa de cabelos ajeitadinhos, soltos, cheio de brilho, balanço, é coisa de filme, acho mesmo que a coisa estava mais para o cabelo de Anne Elliot na versão de 2007 de “Persuasão”. Seria gel, óleo perfumado ou falta de água???
     Mas sempre havia alguém para mostrar uma solução! Na Enciclopédia de Dick de Receitas práticas e processos (William Dick, já em 1858), recomenda-se um processo de secagem de cabelos que parece perfeito (para incendiários). Ele explica que a mulher deve deitar-se em um sofá, com seu cabelo caindo sobre uma das extremidades  e colocar debaixo do cabelo uma panela queimando pedaços de carvão vegetal polvilhado com pó de benjoim (seiva de árvores secas perfumadas do Sudeste Asiático). A fumaça secará os cabelos e eles terão um agradável perfume. (Se não for cheiro de queimado, digo, de cabelo queimado).
     O primeiro secador de cabelos só veio bem depois, em 1890.
    Os penteados e acessórios camuflavam a oleosidade e um perfuminho era sempre bem vindo.


Alguns anúncios publicados em livros de arte e beleza da época:
La Belle Assemblee 1807

Repository of Arts 1818
Óleo de Palma Christi (para espessamento do cabelo)
  • uma onça de óleo de Palma Christi
  • óleo de bergamota em quantidade suficiente
  • lavanda para perfumar
Aplicar de manhã e à noite ou quanto se fizer necessário para os que querem ver o cabelo crescer espesso e luxuriante.
O óleo de Palma Christi é muito utilizado para o espessamento do cabelo nas Índias Ocidentais.


Grecian  Water – (para escurecer o cabelo)

  • duas dracmas de nitrato de prata
  • seis onças de água destilada
  • duas dracmas perfume com qualquer essência que você escolher. 

Para escurecer barba, cabelo ou bigode:
O cabelo , barba ou bigode pode tornar-se negro com a seguinte composição:

  • uma onça de óleo de costus
  • uma onça de murta
Misture em um recipiente de chumbo; adicione:

  • meia onça de breu líquido
  • meia onça de suco de folhas de nogueira
  • meia onça de láudano
  • uma dracma de nozes
  • uma dracma de chumbo
  • uma dracma de incenso
  • uma quantidade suficiente de mucilagem de goma arábica. 
Utilizar três vezes por dia.
Dissolver e molhar o cabelo que você deseja pintar de preto. É perigoso se aplicado na pele.
Óleo de Costus, utilizado na mistura acima
O óxido do ferro era um ingrediente de um “shampoo” para escurecer cabelo (ou "lavagem", como era chamado na época).

Hovey's Cocoa Glycerine
para o cuidado com os cabelos
     Muitos estudiosos têm tratado das cores para tingir o cabelo e as sobrancelhas. Em primeiro lugar: se atualmente, já é questionado sobre os ingredientes das modernas tinturas para cabelos, imagine como era há 200 anos!!! O primeiro, é a solução de prata, conhecida sob diferentes nomes, tais como lavagem chinesa , líquido egípcio, etc . Foi observado que após o uso dessas soluções, as pessoas aparentavam um estado de frenesi(?!?!). Devia se proteger também contra composições em que meimendro (certa planta), morel (cogumelo), leite de cardo, além de outras plantas venenosas eram utilizados, bem como aqueles em que água forte ou arsênico eram ingredientes. 
Óleo Macassar de Rowland
   Temos ainda várias formulas infalíveis (e perigosas):

Fórmula 1:
Ferva nozes  no azeite até que eles se tornem moles. Depois de secas, moa em um pó fino , que deve ser incorporada com partes iguais de carvão de salgueiro, e sal comum. Adicionar uma pequena quantidade de casca de laranja e de limão , seca e moída. Ferver com água até que o sedimento do fundo do recipiente tenha a consistência de uma pomada preta.
O cabelo deve receber  esta preparação, cobrindo-o até secar. Depois, pentear (acho que não era lavado, o pó preto era o que disfarçava os fios brancos). Diziam ser excelente para a coloração do cabelo preto e que deveria ser usado uma vez por semana, para impedir que mais tarde ficasse vermelho e também para cobrir as raízes.

Fórmula 2:
Ferva um grama de minério de chumbo
A mesma quantidade de fichas de ébano por uma hora, em um litro de água limpa.
Lave o cabelo com esta tintura, e mergulhe o pente nela antes de usá-lo.
A composição transforma o cabelo preto, mas a cor se torna mais viva, brilhante e bonita, com a adição de duas dracmas de cânfora.

Fórmula 3:
Os cabelos podiam também ser transformados em pretos com diferentes substâncias vegetais cozidas no vinho. Devia-se lavar a cabeça várias vezes por dia,  mas esta operação devia ter continuidade durante algum tempo.
As substâncias normalmente preferidas para este fim eram: sal da amora, murta, figo, senna, framboesa, medronheiros, alcachofra, as raízes da árvore de alcaparra, a casca de noz e romã, casca de nozes, shumac, peles de feijão, nozes  e cones de cipreste . É também necessário usar um pente de chumbo.


Fórmula 4:
Os meios simples de produzir, os mesmos efeitos, são os seguintes:
Folhas da videira selvagem (também evita queda de cabelo), cortiça queimada, raízes da azinheira e árvore de alcaparra; cascas de salgueiro, nogueira e romã, folhas de alcachofra, amoreira, figueira, framboesa conchas de feijão, fel, nozes de ciprestes, folhas de murta, cascas de nozes verdes, vagem de hera, berbigão, beterraba, flores de papoula, alume, e a maioria dos preparados de chumbo. Estes ingredientes podem ser cozidos em água de chuva , vinho ou vinagre, com a adição de algumas plantas, como sálvia, manjerona, erva-cidreira, cravo, louro, etc

Para pintar o cabelo de castanho.
O cabelo é deve ser previamente limpo com farelo seco (???), ou a água quente, no qual foi dissolvido alúmen. Em seguida misturar:
  • duas onças de cal vivo 
  • uma onça de litharge de ouro
  • meio grama de minério de chumbo 
Reduzir tudo a pó, e peneirar. Umedeça uma pequena quantidade desse pó com água de rosas, esfregue o cabelo com ele e deixe secar ao ar livre, ou com panos quentes. Este pó não mancha a pele.
Afirmava-se que os cabelos podiam ser pintados de preto impregnando-os com banha de porco, misturada com  mínio e cal , mas esta composição na verdade, produziria apenas uma cor castanha.

Miss Harriet e Elizabeth Binney - 1806
     Os cabelos das senhoritas acima parecem muito bonitos e sedosos, mas... viver naquele tempo parece não ser tão "encantador" assim... é, não se pode ter tudo! E vocês? O que pensam?