segunda-feira, 9 de abril de 2012

A beleza das heroínas de Jane Austen (parte 4)

"A beleza de Elinor Dashwood"
    Pouco Jane Austen nos fala da beleza física de Elinor, mas tudo leva a crer que ela era uma moça muito bonita: ...quase tão linda quanto Elinor...(John Dashwood).
     Penso que Elinor tinha uma beleza tranquila e dócil, de maneiras educadas, delicada e gestos calculados, calma, era de tez clara, talvez tivesse os cabelos louros ou castanhos, comum na população inglesa, mas também gostei da versão de 2008, com Elinor de pele e olhos claros e cabelos mais escuros, a contradição é que no livro, Jane Austen diz que as irmãs Dashwood eram demasiadamente parecidas e Marianne sempre é mostrada como loira, neste caso, 
há certa incoerência.
Hattie Morahan como Elinor Dashwood
R&S 2008
 Dos livros de JA, "Razão e Sensibilidade" é o que acho mais intrigante. A abertura da série de 1981, faz um parecer muito especial:
Abertura de R&S 1981
   As duas irmãs em uma gangorra como se tentassem um equilíbrio. Acredito que essa é a essência dessa obra e da beleza e personalidade das irmãs Dashwood!
   Muitos afirmam que Elinor foi inspirada em Cassandra, irmã de JA e o livro, na amizade que as unia, mas acredito que a relação entre as irmãs Dashwood é muito mais complexa. 
     Nos meus tempos de faculdade, fui encorajada a observar o que via e enxergar um "segundo plano", mais ou menos como "procurar chifre em cabeça de cavalo", pois a Arte, (assim como a Literatura) é uma representação de algo profundo e não só uma pintura, música ou escultura "bonitinhas". É por esse motivo que vejo esse relacionamento entre elas com grande fundo psicológico. Por quê? Ao meu ver, Elinor e Marianne nada mais são do que os lados da razão e emoção que todos nós temos, homens (mais a razão) e mulheres (mais a emoção), neste caso, JA retratou a figura feminina entre duas irmãs/amigas, inseparáveis como esses dois sentimentos dentro de nós.
    Elinor, o caráter "Razão", psicologicamente subentendido, por ser a irmã mais velha (pois  a medida que o tempo passa e amadurecemos, nossos sentimentos se tornam naturalmente mais racionais). Ela é firme, pensa antes de agir, não demonstra seus sentimentos em público, e extremamente madura para a idade de 19 anos. Por essa razão apesar de ter gostado das diferentes interpretações feitas para  Elinor, não achei muito estranho quando Emma Thompson, então com 40 anos fez esse papel. Mais uma vez observando um segundo plano, ela retratou  
fielmente essa maturidade de Elinor.
Emma Thompson como Elinor Dashwood
R&S 1995
    Já vi várias mulheres que dizem gostar mais de Elinor do que de Marianne. Outras ainda, que gostariam de ser como ela, pois era mais consciente, firme e não deixava que a emoção passasse sobre a razão e a fizesse agir de forma errônea, tinha bom senso, o oposto da irmã que numa explosão de sentimentos, não se preocupava com o que estava ao redor e quem a observava.
   Todos nós, que conhecemos o perfil de JA, sabemos que ela era uma mulher muito perspicaz e  extremamente inteligente e ouso afirmar que esse conflito de Elinor e Marianne era presente em seu caráter  constantemente. JA era como Elizabeth Bennet, "não tinha papas na língua", como dizem, mas imaginem no início do séc. XIX, onde a mulher  não tinha crédito e nem vez; a dificuldade em ver certos comportamentos e ter controle sobre as emoções! Isso era desejável, mas nem sempre conseguido. Se formos abrir um parêntesis sobre vários fatos da vida de JA e de suas personagens que nos provam isso...(pretendo fazer um post só sobre  esse assunto)Mas o fato mais relevante nessa obra de JA aqui neste post é esse: as irmãs Dashwood retratam o "Eu e o Ego" que existe dentro de cada um de nós (em poucas palavras: o eu é a nossa essência, o que somos verdadeiramente e o ego, aquilo que somos pela nossa cultura, padrões de comportamento e bom senso). A razão é sempre necessária, pois mostra equilíbrio, mas a emoção existe e se ela não pode ser mostrada, sofremos, (claramente o que nos passa  "Razão e Sensibilidade").
Irene Richards como Elinor Dashwood
R&S 1981
     Contudo, não lhe faltou sentimento, Elinor não deixou de amar, ela sofria por seu amor mas não demonstrava, apesar disso seu sofrimento não foi menor, um homem tido como sem beleza, comum, que Marianne, demasiadamente romântica, jamais aprovou como "alma gêmea" da irmã, apesar de gostar de Edward, mas para Elinor, só o amor bastava e mesmo assim ela conseguiu ser feliz ao lado dele.
 A grande afinidade entre as irmãs Dashwood está nessa procura de equilíbrio emocional dentro de nós:
    Por essa convicção de que Elinor e Marianne são frutos de nossos conflitos internos de emoções, é óbvio que a aparência física no romance se torna secundária, mas vejam que frase enigmática:
...a semelhança física entre Marianne e a irmã impressionava... (R&S ,cap. I) pois é como se fossem uma só, cada uma com um extremo, dificilmente alguém real (embora possível), pode ter um só lado tão aguçado. Quem de nós nunca teve que se controlar diante de uma grande emoção ou ofensa e quem não perdeu as estribeiras ou falou demais?
Joanna David como Elinor Dashwood
R&S 1971
     Para encerrar essa "análise" de beleza (interior e exterior) de Elinor Dashwood, coloco alguns trechos do primeiro capítulo de R&S (para maior compreensão, seria interessante a leitura completa do capítulo) onde JA faz claro essa ambiguidade entre razão e emoção, cada característica é determinada por uma delas, sempre afirmando também as semelhanças, portanto mostrando o equilíbrio procurado (encontrado) dentro de nós mesmos: a amizade e companheirismo de Elinor e Marianne:



     ...Elinor, a filha mais velha cujo conselho fora tão acertado, tinha um poder de compreensão e uma firmeza de julgamento que a haviam tornado, apesar de ter apenas dezenove anos, conselheira da mãe e a qualificavam para contrabalançar, em proveito das quatro... tinha excelente coração - era afetuosa e de sentimentos fortes, mas sabia como controlá-los...via com grande consternação o excesso de sensibilidade da irmã...ambas se encorajavam quer na violência, quer na aflição. A agonia de um desgosto, que as subjugava em princípio, era em seguida renovada por vontade própria, alimentada, recriada uma vez, outra e mais outra...porém se mantinha disposta a lutar e a dar ânimo a si mesma...(R&S, cap.I).
foto R&S 1971: janeausten.com.br
http://janeausten.com.br/2012/03/vestuario-elinor-dashwood-1971

Outros tópicos desta série:
"A beleza das heroínas de Jane Austen":
1- Estética
2- Elizabeth Bennet
3- Jane Bennet
4- Elinor Dashwood
5- Marianne Dashwood
6- Anne Elliot
7- Emma Woodhouse
8- Fanny Price
9- Catherine Morland
10-Mary Bennet

6 comentários:

  1. Razão e Sentimento me fez mudar a forma com que eu agia diante o mundo. Por causa da Elinor eu me tornei um pessoa guiada mais pela razão e essa é uma das qualidades que eu mais aprecio na personagem...

    Muito bom o post.

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    1. Amanda, é verdade, eu também sou um pouco de não controlar as emoções, Elinor tem uma característica muito bonita e equilibrada. Afinal, mostrar tudo que está em nosso coração para o mundo pra que, não é? Sinto que eu tb preciso agir mais com a razão muitas vezes... Obrigada pelo comentário.

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  2. eu sempre pensei nas irmãs Dasshwood de pele clara,cabelos castanhos e bem parecidas,só algumas diferenças nos traços-que não as modificasse tanto-e a diferença mais no olhar:elinor de olhos castanhos e marianne de olhos azuis discretos,como os de Elizabeth Taylor.Mas também acho uma coisa bem estranho que marianna seja loira,se no livro elas são parecidas e elinor é morena.eu concordo com vc.
    ass.:Andressa

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    1. Andressa


      Pois é, alguns detalhes tão básicos às vezes passam despercebidos ou os diretores preferem mesmo modificar a obra. Que pena... Obrigada pelo comentário, abçs,

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  3. Mas 40 anos pra interpretar uma de 19 é tenso.

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  4. Ana, acho que é porque Emma Thompson foi roteirista então quiseram homenageá-la, ela interpretou muito bem, mas a idade realmente ficou MEIO fora.

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