terça-feira, 2 de abril de 2013

Dançando com Mr. Darcy - O baile de Netherfield - parte 5

     Essa dança é mesmo inesquecível esteja ela em qualquer versão ou ao som de qualquer fundo musical. O diálogo (se é que pode ser assim chamado) entre Elizabeth e Mr. Darcy é memorável e afirma ainda mais a aversão entre um e outro, ou melhor, acredito que mais por parte de Elizabeth do que de Darcy, que já demonstra certa admiração por Lizzie.
     Podemos reparar que todas as danças (versões de 1980/1995/2005) têm ainda aquela característica de música barroca, não só a música, mas também os passos dançados.
    Na é poca de Jane Austen, os bailes eram movidos por esse tipo de dança (danças inglesas) e músicas de compositores contemporâneos a ela ou ainda bem mais antigos.
    Como já foi colocado em alguns posts mais antigos sobre a música no tempo da JA, os compositores mais aclamados na ocasião eram Haydn, Mozart, Beethoven, Dibdin, também eram comuns as sonatas de Playel e ainda o barroco Bach.

     A versão de O&P 1980, a qual não consegui descobrir informações sobre a canção dançada, mostra o mesmo estilo das suítes e danças country inglesas:

     Já a versão de 1995, trouxe a maravilhosa "Mr. Beveridge's Moggot" dançada por Darcy e Lizzie (também uma dança country inglesa), uma canção composta no final do séc. XVII, mais de cem anos antes desse aclamado baile.
    Assim como hoje, os jovens ansiavam pela modernidade e talvez as mais "moderninhas" como Lydia e Kitty não optariam por algo do tipo; seria pouco provável que esse estilo de música fosse escolhido para essa dança, ainda que a escolha fosse da anfitriã (o que era comum), as irmãs Bingley ou o próprio Mr. Bingley teriam feito uma sugestão mais atual (para a época), mesmo assim, comoveu o público (eu inclusive), sem sombra de dúvida:

     Na versão de 2005, Dario Marianelli fez uma variação muito linda sobre um tema de Henry Purcell, compositor inglês muito aclamado na época, mas que também viveu no séc. XVII:
   Acredito que as pessoas eram muito mais conservadoras e não descartavam com tanta facilidade o mais antigo em favor de algo atual, apenas alternavam as duas coisas, talvez seja  essa a razão dessas escolhas. Por certo, os jovens também admiravam as canções tradicionais.
 
    Além do fundo musical, o bate-boca, digo, diálogo entre Lizzie e Darcy durante essa dança, tem um enorme peso para o seguimento do romance.
Pra quem quiser relembrar ou pra quem não leu...aí vai "o papo":

   "Elizabeth não lhe respondeu e foi tomar o seu lugar na dança, um pouco embaraçada pela honra de ser conduzida pela mão do Sr. Darcy e lendo igual espanto estampado nos rostos dos circundantes ao aperceberem-se do facto. Durante algum tempo mantiveram-se sem pronunciar uma palavra, e ela convenceu-se de que o silêncio entre eles duraria até ao fim das duas danças, resolvida que estava a não quebrá-lo. Em dada altura, porém, lembrando-se de que seria um castigo, sem dúvida maior, obrigar o seu par a falar, ela fez-lhe uma pequena observação sobre a dança. Ele respondeu-lhe, e de novo guardou silêncio. Após uma pequena pausa, ela dirigiu-se-lhe segunda vez e disse:
- É a sua vez de se pronunciar, Sr. Darcy. Como eu já falei sobre a dança, o senhor deve agora referir-se ao comprimento da sala ou ao número de pares que aqui se encontram.
Ele sorriu e garantiu-lhe que diria o que quer que ela quisesse.
- Muito bem. Por agora, essa resposta serve. Talvez, de passagem, eu devesse observar que os bailes particulares são muito mais agradáveis que os bailes públicos. Mas chegou a altura de permanecermos calados.
- Quer dizer que é para si uma regra falar enquanto dança?
- Por vezes, sim. Penso que se deva falar sempre, por pouco que seja. Seria absurdo permanecermos calados durante a meia hora que permanecemos juntos, e, todavia, no interesse de alguns, a conversa deveria ser de tal modo convencionada que lhes permitisse dizerem o mínimo possível.
- No caso presente ausculta os seus sentimentos, ou, pelo contrário, supõe responder aos meus?
Ambas as coisas - replicou Elizabeth com malícia -, pais desde o princípio que noto uma similaridade na nossa maneira de pensar. De carácter insociável e taciturno, nem sempre estamos dispostos a conversar, excepto se contamos emitir uma opinião capaz de impressionar o salão em peso e de ser transmitida à posteridade com todo o éclat de um provérbio.
- Não se pode dizer que salte à vista a semelhança do seu carácter com esse que acabou de me descrever - disse ele. - Até que ponto ele se parece com o meu, não me é dado dizê-lo. Considera-o um retrato fiel, sem dúvida.
- Não me devo pronunciar sobre a minha própria obra.
Ele não respondeu, e de novo mergulharam no silêncio, até que, numa altura propícia da dança, ele lhe perguntou se ela e as irmãs iam com frequência em passeio a Meryton. Ela respondeu-lhe afirmativamente, e, incapaz de resistir à tentação, acrescentou:
- Quando no outro dia ali nos encontrou, tínhamos acabado de fazer um novo conhecimento.
O efeito foi imediato. Uma sombra de altivez profunda espalhou-se sobre as suas feições, mas ele não disse uma palavra, e Elizabeth, embora se censurando pela sua fraqueza, não ousou continuar. For fim, Darcy falou, e, um pouco contrafeito disse:
- O Sr. Wickham é dotado de uma afabilidade que lhe permite «fazer» amigos em qualquer parte; porém, o mesmo não direi da sua capacidade em «conservá-los».
- Teve, com efeito, a infelicidade de perder as «suas» boas graças - replicou Elizabeth com ênfase -, e a um ponto tal que se ressentirá toda a sua vida.
Darcy não respondeu, e parecia ansioso por mudar de assunto. Nessa altura, junto deles surgiu Sir William Lucas, que, fazendo menção de atravessar por entre os pares para o outro lado da sala, e ao deparar com o Sr. Darcy, estacou e curvou-se numa  profunda e de extrema cortesia, felicitando-o pelo seu estilo de dança e pelo seu par.
- Na verdade, tenho-me vindo a deleitar perante tal espetáculo, meu caro senhor. Não é com frequência que se vê dançar tão bem. É evidente que o senhor pertence às mais altas esferas. Permita-me, contudo, dizer-lhe que o seu encantador par em nada o desvaloriza e que espero ver por muitas vezes repetido este meu prazer, sobretudo quando determinado acontecimento tão desejável, querida Menina Eliza (olhando de soslaio para a irmã e para Bingley), tiver lugar. Que felicitações não afluirão então! O Sr. Darcy que o diga... mas não quero interrompê-lo mais. Sei que não me agradecerá os preciosos minutos roubados à conversa fascinante desta jovem, cujos lindos olhos me estão já fulminando.
Esta última frase Darcy mal a ouviu. A alusão de Sir William a respeito do seu amigo parecia tê-lo impressionado sobremaneira, e foi com uma expressão séria que ele fitou Bingley e Jane, que se encontravam dançando um com o outro.
Contudo, em breve recuperou uma serenidade aparente, e, voltando-se para o seu par, disse:
- Com a interrupção de Sir William, esqueci-me sobre o que estávamos falando.
- Não me parece que estivéssemos sequer a conversar. Sir William não poderia ter interrompido outro par na sala que tivesse menos que dizer um ao outro. Tentamos já dois ou três assuntos sem qualquer êxito e não faço a menor ideia sobre qual possa ser o nosso tema de conversa seguinte.
- Qual a sua opinião sobre livros? - disse-lhe ele, sorrindo.
- Livros... Oh! Não. Estou certa de que não lemos os mesmos, ou, então, nunca com a mesma disposição de espírito.
- Lastimo que pense assim; mas, nesse caso, não haverá, pelo menos, o perigo de faltar o assunto entre nós. Poderemos comparar as nossas diferentes opiniões.
- Não, não conseguirei pensar em livros numa sala de baile; o meu espirito está sempre absorto noutras coisas.
- O «presente» mantém-na sempre ocupada em tais cenários; é isso? - disse ele, lançando-lhe um olhar de dúvida.
- Sim, sempre - replicou ela, sem saber bem o que estava dizendo, pois os seus pensamentos navegavam noutras águas, como claramente o deu a entender a exclamação súbita que se seguiu: - Lembro-me de o ter ouvido afirmar, Sr. Darcy, que dificilmente perdoa, e que, uma vez suscitado, o seu ressentimento era implacável. Suponho que seja escrupuloso quanto às circunstâncias que originam esse mesmo ressentimento?
- E sou - disse ele, com voz firme.
- E nunca consinta que um preconceito o cegue?
- Assim o espero.
- Para  aqueles cuja opinião não muda, é da sua particular incumbência a certeza de acertarem nos seus juízos logo à primeira.
- Posso saber qual o fim de todas estas perguntas?
- Apenas para uma mera ilustração do seu carácter - disse ela, procurando disfarçar o tom grave com que até então falara. - Estou tentando decifrá-lo.
- E quais os resultados a que chegou?
Ela abanou a cabeça.
- Pouco adiantei. São tão diversas as opiniões a seu respeito que me sinto baralhada de todo.
- De boa mente acredito - respondeu ele gravemente - que as versões a meu respeito possam variar assim tanto. Contudo, Menina Bennet, desejaria que neste momento não se debruçasse no estudo do meu carácter, pois é caso para recear que tal atividade não abone em favor de nenhum.
- Mas, se não o deslindo agora, nunca mais terei outra oportunidade.
- Não pretendo de modo algum constituir entrave ao seu prazer - replicou ele friamente. Ela nada acrescentou, e, após alguns minutos mais de dança, separaram-se em silêncio, cada um para seu lado e descontentes, embora a um grau diferente, pois no peito de Darcy existia por ela uma ternura de certo modo poderosa, que em breve lhe granjeou o perdão e dirigiu todo o seu rancor para outro.
  
Tradução de Maria Francisca Ferreira de Lima
Tradução portuguesa de P. E. A.

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Na minha humilde opinião a melhor dança, a melhor cena, a melhor música é a da versão de 2005. A cena em que eles estão sozinhos dançando é FANTÁSTICA! Como se a eletricidade e a atração entre eles fizesse sumir todas as pessoas. Para Lizzie e Darcy, naquele momento, eles eram os únicos no salão!

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  3. Gê Guimarães,

    Sem dúvida é muuuito linda. Romantica é pouco. Abçs,

    Patrícia

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