As perguntas:
- O que Jane Austen cantava?
- Quais foram suas canções favoritas?
- Sobre que assunto falavam?
Essas perguntas nos são muito interessantes porque lançam uma luz sobre a vida e pensamento de Jane Austen. Então, vamos ao que interessa!
Em seu livro "Emma" conta-se que Jane Fairfax recebeu um novo conjunto de melodias irlandesas, enviadas com seu novo e belo piano Broadwood.
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Piano Broadwood de 1817 |
Jane Austen interpretava canções folclóricas e canções da fase popular de compositores como Dibdin, Arne e Shiled.
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O compositor inglês Charles Dibdin - 1745-1814 |
As canções da coleção encontradas em Chawton, formam um grupo interessante, variando de sentimentais a espirituosas, canções de árias de óperas simplificadas, além de uma grande coleção de canções escocesas publicadas em Edimburgo no final do século XVIII.
As canções que Jane gostava, refletiam o tipo de diversão, ironia e espirituosidade que seria de se esperar da escritora que conhecemos. Um bom exemplo é "As alegrias do País”. Foi escrito por Charles Dibdin, que era um compositor, intérprete e um precursor do music hall vitoriano. Ele também escreveu canções mais sérias, sentimentais e patrióticas, podendo-se concluir que o gosto musical de Jane Austen era eclético.
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A canção "John Anderson, my Jo, John", também da época |
Outras letras encontradas nos cadernos de anotações de Jane são mais surpreendentes na medida em que exploram como "não seria" Jane Austen, em se tratando de emoções e sentimentos femininos, pois há letras e melodias com tristes lamentos.
Chama também a atenção, um grupo de canções sobre amantes separados, como o lamento de "Orfeu", de Gluck (que Austen tinha em uma edição impressa em italiano e inglês). Outra letra linda, "...eu tenho uma dor silenciosa aqui...", é um hino de auto-humilhação no amor. Várias canções expressam o sentimento. Mas o aspecto mais surpreendente da coleção de Jane, são as letras que expressam muitas coisas que uma mulher não poderia dizer em circunstâncias normais. Essas letras levantam questões mais amplas sobre a natureza e a função da música na vida das mulheres no final do século XVIII e início do XIX.
Senhoras mais jovens eram praticamente "condenadas" a tocar e cantar. Muitas das canções envolvem assuntos francos sobre sexo e as mulheres eram esperadas para realizar os versos. Uma série de canções escocesas envolvem convite sexual de uma mulher, e na coleção de Jane há vários exemplos em várias línguas sobre homens que desejam perseguir as mulheres, todos marcados para um soprano (a voz aguda feminina, em que Jane Austen se enquadrava).
Tanto faz se o cantor é do sexo masculino ou feminino, deixando de lado a questão do convite sexual evidente, as pessoas estão sempre declarando seu amor com todas as suas forças, alguns mais explicitamente, outros castamente, alguns sentimentalmente, outros melodramaticamente.
"Polwart on the Green" é um (encantador) convite sexual da Escócia: uma moça convida um "amante/rapaz" para compartilhar sua cama. Ela primeiro declara sua desaprovação com as mulheres que resistem e que dizem não, enquanto secretamente desejariam agir como ela e então faz seu convite.
"Polwart on the Green" é um (encantador) convite sexual da Escócia: uma moça convida um "amante/rapaz" para compartilhar sua cama. Ela primeiro declara sua desaprovação com as mulheres que resistem e que dizem não, enquanto secretamente desejariam agir como ela e então faz seu convite.
Este convite para o verde, o gramado e por incrível que pareça sua cama, é aparentemente algo que uma mulher poderia cantar por estar contida em uma música e muitas vezes em dialetos. Enquanto a cantora está expressando essa feminilidade, está representando uma menina escocesa "simples" e entoando uma canção folclórica, aparentemente saudável e inofensiva por definição, o que podemos perceber, é Jane apenas refletia o gosto "educado" e clássico de uma senhora dos seus dias.
Um exemplo é "The Irishman". Uma canção que compara homens de várias nacionalidades como amantes, e conclui em cada verso que nenhum deles pode amar como um irlandês; é uma espécie de cantiga, uma canção simples. Jane deve ter gostado do trocadilho, geralmente divertido com base em vários significados de uma mesma palavra ou uma semelhança de significado entre palavras, visto que era bem humorada. Aqui, as mulheres são ativas, não passivas, esperarando para serem escolhidas.
Alguns estudiosos especulam que Jane Austen pode ter recebido esta canção de seu admirador irlandês Tom Lefroy, e que a repetida frase "nenhum deles pode amar como um irlandês" poderia se referir a ele, uma referência biográfica tentadora!
Alguns estudiosos especulam que Jane Austen pode ter recebido esta canção de seu admirador irlandês Tom Lefroy, e que a repetida frase "nenhum deles pode amar como um irlandês" poderia se referir a ele, uma referência biográfica tentadora!
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Cena do filme "Amor e inocencia", representando Jane Austen e Tom Lefroy |
Outras tantas canções, além das de amor têm seres masculinos como "falantes" e obriga a cantora a assumir papéis masculinos: heróicos soldados ou marinheiros descrevendo batalhas e dificuldades, desportistas, as alegrias da caça, etc. Uma delas é, "The soldier adieu", de Dibdin, em que Jane Austen mudou "soldado" para "marinheiro" em sua cópia (muito autêntica essa moça...).
Aqui, a cantora tem uma chance (mesmo que temporariamente) de não se tornar a mulher que espera em casa, mas o herói que sai para a aventura e a certeza de que ele pode contar com a mulher em casa.
Jane também se mostrou ativa nos acontecimentos de seu tempo, (embora alguns cadernos de anotações digam o cantrário), tendo canções que falavam sobre os lamentos de Marie Antoniette e Mary Stuart, rainhas presas e uma canção francesa de protesto sobre um rei preso,
Jane também se mostrou ativa nos acontecimentos de seu tempo, (embora alguns cadernos de anotações digam o cantrário), tendo canções que falavam sobre os lamentos de Marie Antoniette e Mary Stuart, rainhas presas e uma canção francesa de protesto sobre um rei preso,
mas ela também fez algo muito mais surpreendente: em dias de guerra napoleônica, cuidadosamente copiou a "Marcha dos marselleises" e a música e seis versos franceses da própria "La Marselleise" (hino nacional francês), o interessante foi que fez isso com mais cuidado e capricho do que a habitual caligrafia utilizada nas outras cópias (pelo menos nos versos iniciais), lembrando que certas canções sobre guerra cantadas por uma senhora era uma certa ousadia.
O século XVIII foi horrorizado com a idéia de uma mulher com uma espada na mão (uma objeção a escrita das mulheres), era uma maneira de dizer que as mulheres deviam segurar a agulha e não a pena (para escrever), em suas mãos.
Mas o que impressiona é como as canções eram “atrevidas” para o período no qual foram escritas e por se destinarem a qualquer cantor jovem, muito contra os padrões contemporâneos de diálogo.
É uma notícia muito boa que algumas páginas de sua coleção de música já foram microfilmadas, digitalizadas, executadas e gravadas*, e que várias pessoas estão trabalhando em edições ou debates sobre sua música preferida. Isso também convida a uma investigação mais ampla sobre o que as mulheres britânicas cantavam ao piano, nos séculos XVIII e XIX. Mas o que impressiona é como as canções eram “atrevidas” para o período no qual foram escritas e por se destinarem a qualquer cantor jovem, muito contra os padrões contemporâneos de diálogo.
*no próximo post
Fontes:
www.burnsscotland.com/items/a/a-select-collection-of-original-scottish-airs-for-the-voice,-containing-songs-by-robert-burns.aspxFontes:
www.affordablehousinginstitute.org
www.earlypiano.co.uk
www.rmg.co.uk
wwwnewbostonfineandrarebooks.com
Muito legal!
ResponderExcluirBeijos,
Taiane.
http://bloglivrosecha.blogspot.com/
Taiane,
Excluirobrigada, volte sempre. Vou fazer um tour pelo seu blog! Beijos, Patrícia
Queria dizer que sou uma grande admiradora desse blog e da senhora (ou senhorita)escritora.Beijos.
ResponderExcluirRô, muito obrigada, fico muito feliz! Na verdade sou senhora porque já sou casada, mas por aqui somos todos amigos e um VOCÊ está ótimo. Bjos,
ResponderExcluirPatrícia
Patrícia,
ResponderExcluiro último mês foi cheio de afazeres e somente agora estou dando suas notícias no Jane Austen em Português.
Boas Festas para você e um abraço,
Raquel,
Excluirimagino a correria!!! Principalmente depois que conheci o "Antiguinha" e vi quanta coisa linda vc faz! Eu, que tb amo trabalhos manuais sei o quanto isso toma tempo, (mas é extremamente gratificante)! Obrigada pelo carinho que tem sempre dispensado em fazer mais conhecido o meu blog. Bjos e um 2013 com tudo de melhor!!!
Patrícia
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Dear reader,
ResponderExcluirThank you for visiting. I don't have twiter, sorry. Check back often.